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Sim ou não? Cinema pode ajudar
Cássio Gomes Neves
Do Diário do Grande ABC
09/10/2005 | 09:01
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Armar ou desarmar, eis a questão. Ferve por estes dias o debate em torno do referendo via voto popular que, no próximo dia 23, determinará a validade do comércio de armas de fogo e munição no Brasil. O cinema, um baita depósito de diversidade temática, pode servir como suplemento à discussão, um apêndice para colaborar com a decisão pelo “sim” ou pelo “não” à proibição da venda ao consumidor comum.

O contexto iconográfico do cinema repousa na banalidade. Faroestes e filmes de ação estabeleceram a arma de fogo como um elemento de cena comum, um brilhareco muitas vezes. Em desenhos animados, inclusive, nos quais já não franzem a testa de ninguém. Não se trata aqui de apregoação de valores, mas de uma constatação. A questão então não é sugerir filmes que obedeçam à polarização do referendo – pelo “sim” ou pelo “não” –, mas destacar obras que apresentem a arma de fogo como um elemento complicador em sua narrativa, que abordem a violência da pólvora por seu posicionamento às margens da ética.

Marcas da Violência, novo de David Cronenberg, é dessa leva. Um pai de família, munido de uma pistola, mata dois bandidos que invadem sua lanchonete e é glorificado como herói na pequena cidade onde vive. O rótulo o incomoda.

O filme de Cronenberg só deve estrear por aqui em 11 de novembro, três semanas depois do referendo. Portanto, convém consultar as opções em DVD e VHS. E nesse território não há como ignorar Tiros em Columbine (2002), documentário de Michael Moore que analisa a transigência de uma sociedade para com o emprego de armas de fogo por civis, partindo do massacre na escola Columbine, no Colorado, em 1999, quando dois adolescentes mataram 13 pessoas e depois se suicidaram. O picadeiro armado por Moore – que chega a chantagear Charlton Heston, ator e integrante de associação que defende o direito ao armamento – menos ajuda que atrapalha; mas o filme é essencial para o debate em questão.

Também inspirado na tragédia de Columbine, Gus Van Sant fez o excelente Elefante (2003). Sua vereda de interpretação é por questões inerentes à juventude dos envolvidos no episódio. Legalmente, o comércio bélico não corresponde à idade dos protagonistas. Mesmo assim, Van Sant exibe uma cena em que os adolescentes responsáveis pelas mortes nos corredores do colégio adquirem armamento via internet.

Entre Quatro Paredes (2001) exibe um pai que tenta assimilar o assassinato do filho pelo ex-marido de sua nora. A vingança não lhe sai da cabeça e a arma de fogo se apresenta como veículo da vendeta. Existe um profundo problema moral neste drama de Todd Field que o diretor, por falta de flexibilidade, não deixa em aberto. Em O Júri, o buraco é mais abaixo; o diretor Gary Fleder tece um drama de tribunal no qual uma viúva processa a empresa que fabricou a arma usada para assassinar seu marido.

Sem esquecer a dobradinha nacional Cidade de Deus (2002; de Fernando Meirelles e Kátia Lund) e Como Nascem os Anjos (1996; de Murilo Salles), em que crianças manejam pistolas feito carretéis de pipa. Há também versões um tanto mais delirantes que arrastam as armas de fogo para a linha de tiro, como Robocop 2 (1990; de Irvin Kershner), O Profissional (1994; de Luc Besson) e Um Dia de Fúria (1993; de Joel Schumacher). Filmes não faltam, tanto quanto argumentos para justificar a escolha diante da urna.




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