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'Nome Próprio' retrata geração blogueira
18/07/2008 | 07:14
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Divulgação


Nome Próprio, novo longa-metragem de Murilo Salles, que estréia nesta sexta-feira no circuito paulistano, e é baseado, ou inspirado, nos livros Máquina de Pinball, de John Fante,além de textos de blogs de Clarah Averbuck. A autora, que afeta personalidade difícil, não gosta de ser chamada de blogueira. É escritora. Existem algumas aproximações entre Clarah e Murilo, uma delas em particular - ambos adoram John Fante. Como ela não escreveu Pergunte ao Pó, e ele não o filmou, encontraram-se em torno de Máquina de Pinball. Se você notar proximidade temática e de estilo entre Averbuck e Fante não terá sido mera coincidência.

Todo mundo gosta de Fante. Bukowski gostava. Como fica, então? Melhor prestar atenção no filme e deixar essas falsas polêmicas para lá. A história é a de uma garota, Camila (Leandra Leal), aspirante a escritora e que se exercita em seu blog, postando impressões do cotidiano. Aliás, cotidiano dos mais movimentados porque Camila é uma espécie de Arturo Bandini (personagem de Fante) ou Bukowski de saias. Bebe como um estivador, fuma, toma bolinhas, dorme com metade de São Paulo.

Murilo desejou fazer um estudo do desespero juvenil contemporâneo. Na era da internet - quer dizer, num tempo em que a obsessão em comunicar-se apenas camufla o fato de que nunca as pessoas foram tão isoladas em si mesmas. O filme é deliberadamente "sujo" (nunca embeleza situações ou cenários), fotografa em registros frios e claustrofóbicos. Pouco sai à rua; não se vê o horizonte.

Quase todo o tempo é passado nos apartamentos precários onde mora a moça, ou em botequins que freqüenta. Na proposta, o filme é interessante. Para enfrentá-lo, o espectador vê-se obrigado a conviver 1h54 com uma personagem literalmente insuportável.

A visão do autor sobre a juventude da internet não é muito suave. Camila parece um valentão de bar, dotado de um centro frágil como cristal. Procura construir-se pela escrita. É seu trunfo e possível salvação. Não sabemos se a autora conseguiu enxergar-se na personagem. Não interessa. Importa é o sentimento que ela desperta em nós, espectadores - um misto de irritação e ternura.




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