Política Titulo
Candidata do PHS 'negocia' acesso de Siraque a favela
Cristiane Bomfim
Do Diário do Grande ABC
28/09/2008 | 07:37
Compartilhar notícia


Criminosos controlam o acesso de candidatos a prefeito nas favelas do Grande ABC. Na tarde de ontem, o Diário presenciou "negociação" para a entrada do prefeiturável de Santo André, Vanderlei Siraque (PT), na favela do Jardim Cristiane. Traficantes e moradores confirmaram a necessidade.

Enquanto Siraque percorria a Rua Ascalon - uma das principais entradas do núcleo - e cumprimentava moradores, a candidata a vereadora Vanessa Vicente (PHS), que o acompanhava, comentou com uma militante da campanha petista: "Deixa eu dar um toque para o pessoal lá dentro (da favela) para avisar que o Siraque vai entrar". Pelo telefone celular, Vanessa deu o aviso: "Estou aqui com o Siraque. Não tinha sido informada que ele entraria. Achei que fosse só na rua principal". Após uma pausa, completou: "O Diário também está aqui".

Com a autorização, a candidata a vereadora, que disse morar no bairro, informou os militantes: "Ele pode entrar, mas não dá para passar em todas as vielas. Melhor ficar na parte central".

Ao entrar na Travessa Prestes Maia - rua mais movimentada do núcleo -, a candidata do PHS não saiu do lado do petista, indicando as vielas por onde poderia passar. "Vem por aqui, Siraque. Que tal aquela viela? Ali não vai dar para ir", dizia. O percurso também foi acompanhado por um motoqueiro que, de longe, observava o movimento dos militantes.

Em um bar, no centro da favela, jovens ligado ao tráfico, nomeados por eles como "movimento", afirmaram que a entrada do petista só ocorreu após autorização. "Todos precisam de autorização. Não é só entrar, porque atrapalha a função (tráfico)", revelou um rapaz que não quis se identificar. Outra moradora disse que é comum o tráfico controlar o movimento na área. "Isso tem em todo lugar. Pedir autorização é uma segurança que o candidato tem."

Questionado sobre as dificuldades de acesso, Siraque afirmou não negociar com bandidos. "Não sei disso. Entro em qualquer favela com tranqüilidade e nunca precisei de autorização." Vanessa também tentou negar a "negociação". "Faço várias ligações, mas não tem nada disso. Essa favela é tranqüila."

Perfil - O também prefeiturável de Santo André, Raimundo Salles (DEM), afirmou já ter visitado o Jardim Cristiane três vezes em campanha. "Sou o queridinho da favela. Não preciso de autorização e nunca pedi. Depende do perfil do candidato. Alguns, nem pedindo autorização entram", disse o democrata, que ontem se encontrou com o delegado da Polícia Federal Protógenes Queiroz.

Precisar do ‘aval' de traficantes não é exclusividade de Santo André. Em reportagem da Folha de S.Paulo de ontem, o candidato a vereador Ademir Silvestre (PSB), que fez corpo a corpo na favela Pai Herói, em São Bernardo, confirmou que são feitos acordos com o tráfico para que políticos entrem nas áreas de influência. Mas, ontem, Silvestre desmentiu para o Diário. "Eu converso com as lideranças dos bairros e nunca precisei de autorização para entrar em favela."

O delegado seccional de Santo André, Luiz Carlos dos Santos, se disse surpreso com o fato. "Não pode existir essa negociação. No meu modo de entender, toda a cidade é aberta a todo mundo. E nunca fui comunicado sobre algo deste tipo. Quem pediu autorização é quem tem de se explicar."

A seccional de São Bernardo, Elaine Pacheco, também afirmou que não foi informada sobre o assunto. (colaborou Gleyma Lima)




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;