Cultura & Lazer Titulo
Jesus segundo a humanidade em livro
Ricardo Ditchun
Do Diário do Grande ABC
17/12/2000 | 18:25
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Cristo, vale lembrar, é o personagem central do feriado natalino. Desde seu nascimento, há 2 mil anos, Ele tem sido representado de variadas formas, sempre de acordo com necessidades políticas, sociais e religiosas. Do ponto de vista da história da arte, essa narrativa é óbvia, mas desde que existam ferramentas capazes de orientar os interessados. Uma delas, fundamental, foi lançada em formato de livro em 1997, nos Estados Unidos e na Inglaterra, em ediçao conjunta da Yale University Press e New Haven & London. Agora, a traduçao dessa obra, em formato luxuoso, chega ao Brasil por meio da editora paulistana Cosac & Naify: A Imagem de Jesus ao Longo dos Séculos (254 págs., R$ 65), de Jaroslav Pelikan.

O autor, professor emérito em Yale, é um dos grandes especialistas em teologia e história do cristianismo. Autor de pelo menos três dezenas de livros sobre esses assuntos - destaque para o clássico The Christian Tradition: A History of the Development of Doctrine -, Pelikan, 77 anos, ajuda-nos a entender o lugar ocupado pela imagem de Cristo na história geral da cultura. Para tanto, faz uso de uma linguagem particularmente agradável, uma mistura de didatismo e erudiçao.

Outra importante característica do livro diz respeito ao conjunto iconográfico selecionado. Sua organizaçao, ao contrário do que se poderia esperar, nao obedece a critérios cronológicos ou de afinidade entre escolas estéticas. Por tratar-se de material usado anteriormente para um curso oferecido por Pelikan em Yale, A Imagem de Jesus aborda o tema a partir das várias dimensoes estabelecidas com o passar do tempo entre o homem e o filho de Deus.

A moldagem bidimensional ou tridimensional do Cristo, portanto, tem sido feita em funçao de interesses mais ou menos complexos. No âmbito moral, por exemplo, Ele pode aparecer absolutamente casto, justo etc. Se se trata de uma situaçao de conflito social, por outro lado, tem-se um Jesus combativo, libertador ou homem de açao. Nao faltam, ainda, facetas que atendem a necessidades como aproximaçao religiosa (com o povo judeu), caso do Rabi, apelido dado a Cristo por quem conviveu com Ele. Jesus surge, ainda, na condiçao de mito de inspiraçao abrangente, O Homem Universal; como modelo de abnegaçao, O Cristo Crucificado; ou exemplo de solidariedade, O Cristo dos Gentios.

Assim, graças às magníficas intervençoes terrenas de gênios como Giotto, Doré, Munch, Dalí, da Vinci, Caravaggio, Orozco e Botticelli, Cristo é, além de signo de bondade e esperança, uma espécie de cadinho ideológico cujo conteúdo é constantemente reinterpretado.




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