Levantamento da Apeoesp mostra que menos de um quarto dos estudantes da rede utiliza o aplicativo para ensino a distância
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Pesquisa feita pela Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial de São Paulo) entre os dias 25 e 28 de maio mostra que tem sido baixo o acesso de alunos ao aplicativo Centro de Mídias, disponibilizado pelo governo do Estado para que os estudantes da rede assistam às aulas pela internet. Os dados, coletados através de respostas espontâneas dos professores, mostram que em todo o Estado menos de 25% dos alunos assistiu às aulas. Na região, não existem informações de todos os dias para todas as cidades, mas a frequência variou de 2,7% entre os alunos de São Bernardo e São Caetano em 27 de maio até 100% dos alunos de Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra em 26 de maio (veja os dados na tabela).
As dificuldades dos alunos para manter as aulas a distância são diversas e passam por problemas estruturais, como a falta de equipamentos e sinal de internet. Estudante do 3º ano do ensino médio, Petterson Luiz, 17 anos, mora no bairro Homero Thon, em Santo André. O jovem relata que iniciou o ano estudando com dedicação e focado em ter um bom desempenho, mas com a suspensão das aulas não tem conseguido absorver o conteúdo disponibilizado no aplicativo. “Vejo as aulas e penso: ‘O que vocês estão falando? Não consigo entender, sinceramente’”, relata.
Petterson tem feito as atividades que são pedidas pelos professores, mas sem computador em casa, pediu ajuda para a namorada digitar seus trabalhos. “Uma ou outra não fiz, mas as aulas on-line para mim não acrescentam nada”, completou. O jovem tem tentado estudar com livros e no conteúdo que já havia sido passado. O estudante pretende fazer o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), que foi adiado e ainda não tem nova data definida, mas se sente prejudicado pela situação. “Na escola estava tendo apoio, mas mal tinha começado as aulas (para o Enem), teve a pandemia”, lamentou.
Cursando a EJA (Educação de Jovens e Adultos), Charles Wesley Santos, 30, não tem conseguido acessar a internet há cerca de um mês. Apesar de assistir às aulas pela televisão, o morador do Jardim Marek, em Santo André, não tem conseguido enviar os trabalhos solicitados pelos professores pela falta de conexão. “Poderia até usar o computador de algum parente, mas eles são do grupo de risco para a Covid-19, então não posso arriscar”, explicou.
Stephany de Castro, 20, mora no Centreville, em Santo André, também cursa a EJA e o seu curso deveria terminar no primeiro semestre deste ano. A jovem vai ter bebê em agosto e não sabe se conseguirá voltar às aulas presenciais. A estudante tem tido muitas dificuldades para acessar o conteúdo do blog que foi feito pela escola e não sabia que podia assistir às aulas pelo aplicativo. “Até agora só consegui fazer as atividades de inglês e sociologia”, cita.
Aluna do 2º ano do ensino médio, Lauryn Amaral, 16, desistiu de assistir aos vídeos no aplicativo porque a qualidade do material, nas suas palavras, “é péssima”, mas tem feito todas as atividades propostas pelos professores. “Meu grande problema é que a maioria dos professores não tem intimidade com tecnologia, o que dificulta a nossa comunicação”, explica.
Secretaria afirma que terá recuperação para alunos que tiverem dificuldades
O governo do Estado não comentou os dados da pesquisa da Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial de São Paulo) sobre o baixo número de acesso dos estudantes ao aplicativo de aulas on-line. Em nota, a Secretaria de Estado da Educação informou que São Paulo foi pioneiro no País para implementar ensino a distância em larga escala para enfrentar os desafios impostos à educação pela pandemia do novo coronavírus, disponibilizado com internet gratuita para seus 3,5 milhões de alunos e mais de 180 mil professores da rede pública. “A iniciativa foi viabilizada em tempo recorde, com aposta em tecnologia e o apoio da Fundação Roberto Marinho”, explica o comunicado.
O governo afirmou, ainda, que para que nenhum aluno fique para trás neste processo de aprendizagem, além dos dois aplicativos do Centro de Mídias SP e produção de manuais de orientações de estudo e distribuição de kits, as aulas estão sendo transmitidas pela TV Educação e TV Univesp. “De acordo com a pesquisa TIC Domicílios do Cetic.br, 97,4% dos domicílios no Estado de São Paulo possuem televisão.” Segundo a nota, o aplicativo teve 2,8 milhões de downloads, conta com 700 mil seguidores nas redes sociais e, até o momento, obteve mais de 1,6 milhão de acessos de alunos.
A pasta alegou que, caso algum aluno ainda tenha dificuldade no acompanhamento dos conteúdos ao longo deste período, a Secretaria de Estado da Educação está preparando ações de reforço escolar, a fim de recuperar possíveis deficiências e garantir o processo de ensino e aprendizagem.
Professores criticam a manutenção de avaliações com notas e burocracia
As aulas on-line da rede estadual foram suspensas na última semana após a Secretaria de Estado da Educação convocar os professores para replanejamento. O próprio secretário de Educação, Rossieli Soares, acompanhou os dois primeiros dias, mas foi internado com Covid-19 na terça-feira.
Os professores criticaram a insistência do governo em manter avaliações com nota e questionam o nível de burocracia que tem sido cobrado dos docentes.
Coordenador geral da sub-sede da Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial de São Paulo) de Santo André, Raphael Bueno Bernardo da Silva afirmou que cada escola tem passado uma orientação e que em algumas há intensa burocratização. “Os professores sentem que só estão cumprindo registros que não são eficazes”, apontou. Silva relatou que cada docente chega a ter que interagir em até 20 grupos, entre coordenação e estudantes. “Acredito que apenas 20% dos alunos estejam participando e até poucos dias, a orientação era que devíamos deixar com nota zero quem não está mandando atividades. Mas sabemos que muitos não conseguem por falta de internet. Não faz sentido continuar com esse sistema de avaliação com notas”, criticou.
O coordenador citou que durante o planejamento a única coisa que foi flexibilizada foi o programa MMR (Métodos de Melhorias de Resultado). “Até mesmo porque, a distância, sem a orientação do professor, como melhorar os resultados dos alunos para manter índices e metas”, questionou.
A Secretaria de Estado da Educação não respondeu aos questionamentos feitos pelo Diário sobre o replanejamento da última semana.
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