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Na região, 7% de mortes por Covid são de obesos

Excesso de peso é visto por especialista como o principal fator de risco para os contaminados

Bia Moço
Do Diário do Grande ABC
02/06/2020 | 23:55
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Denis Maciel/DGABC


A obesidade – cujo dia da conscientização infantil é celebrado hoje – é uma das condições crônicas consideradas de risco para agravar casos da Covid-19, conforme divulgado pela OMS (Organização Mundial da Saúde). No Grande ABC, em seis das sete cidades – Rio Grande da Serra não informou – 42 pessoas que tinham excesso de peso perderam a guerra para o novo coronavírus, o que representa 6,7% dos 626 óbitos registrados até ontem. Especialistas ressaltam, entretanto, que a comorbidade não é fator que aumente a chance de o paciente se contaminar, mas tende a apresentar piora no tratamento.

Cirurgião geral e bariátrico da Clínica Gastro ABC e do Instituto EndoVitta, André Augusto Pinto explica que, quando o paciente obeso é infectado pelo novo coronavírus, pode responder à contaminação com sintomas mais graves, tendo em vista os prejuízos já adquiridos com o sobrepeso, como pressão alta, diabete tipo 2 e colesterol elevado. Segundo o especialista, a obesidade é o principal fator de risco para agravar a Covid-19 em pacientes abaixo dos 60 anos, sendo que, conforme o cirurgião, “a maioria dos infectados graves em UTIs (Unidades de Terapia Intensiva) no mundo todo é obesa.”

“Isso acontece porque a obesidade, além de levar a muitas doenças associadas, é um fator que faz com que o organismo da pessoa fique inflamado cronicamente, o que se agrava, e muito, com o coronavírus, acarretando piora dos sintomas da doença e aumentando sua gravidade e mortalidade”, garante André.

O médico destaca que esta população tem de reforçar os cuidados pessoais e, principalmente, intensificar o isolamento físico para evitar, ao máximo, o contágio pela Covid-19, principalmente aqueles que também apresentam doenças associadas. Segundo o cirurgião, outro fator que colabora para que a Covid-19 seja mais agressiva em pessoas com sobrepeso é a respiração comprometida diante do acúmulo de gordura. “O obeso respira mal e isso pode piorar muito com a infecção por coronavírus, causando insuficiência respiratória em porcentagem ainda maior do que acomete a população normal”, explicou.

O especialista pontua que pessoas que mantêm uma vida saudável, com dieta adequada, atividade física frequente e peso correto, têm condições físicas “muito melhores” para combater a doença, geralmente com sintomas mais leves ou até mesmo assintomáticos. “Além disso, estas pessoas (com peso adequado) tendem a manter sistema imunológico muito melhor”, garantiu.

Embora o exercício físico seja uma das dicas para que a população obesa busque melhor qualidade de vida, André reforça que as dificuldades em realizar as atividades, justamente pelo sobrepeso, devem ser respeitadas e, portanto, é preciso que a pessoa obesa busque profissional para orientar os devidos meios de praticar exercícios, levando em consideração as limitações de acordo com cada caso. “Vale salientar que (a quarentena) não é o momento para dietas radicais e esforços físicos exagerados, porque isso pode levar a deficiências nutricionais que podem baixar a imunidade, além de causar lesões que podem fazer com que os indivíduos fiquem acamados ou imobilizados, o que piora ainda mais sua condição física e pode até levar a ganho de peso nesta fase difícil da pandemia”, finaliza.

Sobrepeso infantil é alerta para os pais

Hoje é celebrado o dia da conscientização contra a obesidade infantil, problema que acomete um terço da população brasileira com idade entre 5 e 19 anos. O excesso de peso – considerado doença crônica e crescente em todo o mundo – tem chamado cada vez mais a atenção dos médicos pela quantidade de crianças e jovens diagnosticados cada vez mais cedo. Diante disso, especialistas garantem que o sobrepeso na infância deve servir de alerta aos pais, já que o excesso de gordura é sinal de que algo está errado com o organismo.

Segundo estudo divulgado pela OMS (Organização Mundial de Saúde), em todo o mundo cerca de 22 milhões de crianças abaixo dos 5 anos são consideradas obesas. Em 2018, o levantamento apontou que mais de 124 milhões, na faixa etária entre 5 e 19 anos, estão com sobrepeso.

Gastrocirurgião e endoscopista do Instituto EndoVitta, Eduardo Grecco destaca que 75% das crianças e adolescentes que já apresentam problemas com peso tendem a se tornar adultos obesos. O especialista pontua, porém, que o problema vai além de estética e não atrapalha só o crescimento e questões hormonais, mas também colabora para que o jovem passe por impacto emocional e social. “Existe um bullying em relação a isso. As crianças, no começo, não estão incomodadas com o peso, mas depois vem a vergonha”, explica.

Segundo Grecco, o quadro de obesidade existe por dois motivos fundamentais, sendo o principal deles a alimentação, já que existe excesso de consumo de fast foods, congelados e doces. “Outro ponto é a falta de atividade física. As crianças gostam e têm necessidade de praticar exercícios, mas vimos uma busca menor em relação a isso, sobretudo pelo uso excessivo da tecnologia, como jogos”, pontuou.

Grecco diz que a melhor forma de combater o mal vem da conscientização das famílias que, em sua opinião, devem rever seus hábitos, já que as crianças costumam ganhar peso por causa da rotina, sobretudo alimentar, que vivenciam. “A família precisa ensinar e mostrar que a fruta, por exemplo, é legal. Precisam mudar o paladar, já que os pequenos tendem a gostar deste tipo de alimentação”, explicou o médico.

Segundo o especialista, depende dos responsáveis não investir em alimentos de baixo ganho nutricional, como salgadinhos, doces e refrigerantes. “A criança sempre vai dar preferência para esse tipo de alimentação”, reforça.

No período de quarentena, o especialista destaca o diálogo com as crianças e jovens para controlar o impulso alimentar. “Os responsáveis precisam ensinar, orientar, conversar e mostrar. Não é só imposições e broncas, tem de fazer com que compreendem este momento extremamente complicado.”




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