Cultura & Lazer Titulo
Delicada transgressão
Natane Tamasauskas
Do Diário do Grande ABC
14/03/2008 | 07:15
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Pontuado por sensíveis reflexões acerca de certezas que parecem ter sido inventadas antes da própria razão, o monólogo A Alma Imoral, conduzido por Clarice Niskier, entra em cartaz a partir de hoje no Teatro Eva Herz, em São Paulo.

Inspirado no livro homônimo do rabino Nilton Bonder e supervisionado pelo diretor Amir Haddad, o espetáculo chega ao Estado depois de ser visto por mais de 60 mil pessoas em diversas capitais brasileiras.

Já nos primeiros minutos pode-se observar a habilidade da atriz ao transformar a relação palco-platéia em uma conversa íntima, acolhedora. A partir deste momento, é possível isolar-se da realidade presente e perceber-se mergulhado em pensamentos e lembranças.

Descalça, apenas com um vestido preto, Clarice explica os passos que a levaram a montar a peça. Minutos depois, acompanhada apenas de uma cadeira e um pano preto sobre o tablado, a atriz despe-se. “Eu tinha essa idéia desde o começo. A única maneira de dizer que tinha compreendido profundamente o texto era me expor ao máximo”, conta.

E assim fez. A maior parte do tempo sem roupa, Clarice fala sobre o nu – “o ser humano se fez o mais nu e o mais vestido dos animais” –, sobre a consciência – “encontraremos paz na consciência de nossa finitude?” –, sobre traição e tradição – “não há tradição sem traição assim como não há traição sem tradição”, sobre religião. Passeia entre histórias trazidas através do tempo pelo povo judeu e ressalta o poder da transgressão, motor da evolução.

Segundo a obra de Bonder traduzida pela voz e pelos gestos da atriz, a alma é transgressora e tem por destino desobedecer. E isso acontece em nome da própria preservação.

Por fim, ao iluminar seus próprios questionamentos, Clarice Niskier traz respostas a sentimentos que freqüentemente assombram o ser humano.

ORIGEM

Após conhecer o livro de Nilton Bonder e pedir permissão para adaptá-lo, durante dois anos Clarice ‘experimentou’ o texto. Fez leituras com filósofos, religiosos, psicanalistas, até amadurecer os excertos escolhidos para compôr o espetáculo. “Fui seguindo um critério muito subjetivo. Escolhi o que batia no meu coração”, diz.

Depois de estrear em uma pequena sala no Rio, em 2006, A Alma Imoral foi ganhando público, elogios, teatros maiores e prêmios. No ano passado, foi exibido na IV Festa Internacional de Teatro de Angra, também no Rio, para um público de 1.200 pessoas de uma só vez. “O silêncio de uma multidão é muito impactante. Mas quando o lugar é pequeno, apenas pelo olhar você pode perceber a transformação da pessoa que está na sua frente”, explica a atriz.

A Alma Imoral. Teatro. No Teatro Eva Herz (Conjunto Nacional) – av. Paulista, 2.073. Tel.: 3170-4059. Ingr.: R$ 25 (meia-entrada) e R$ 50. 6ª e sáb., às 21h; dom., às 19h. Até 15 de junho.



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