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Pílula nao pode virar rotina, advertem médicos
José Carlos Pegorim
Da Redaçao
04/03/2000 | 15:30
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Lançado há sete meses no Brasil, o anticoncepcional Postinor-2, fabricado pelo laboratório Aché e conhecido como a pílula do dia seguinte, enfrenta o seu primeiro Carnaval. Atualmente, ele é o único no mercado feito especificamente para evitar uma gravidez indesejada depois de uma relaçao sexual desprotegida, ou na qual houve falha do preservativo.

O remédio é vendido numa embalagem com dois comprimidos, sem receita médica, por R$ 15 nas farmácias, e tem de ser tomado nas primeiras 72 horas depois da relaçao. O segundo comprimido tem de ser ingerido 12 horas depois do primeiro. Quanto mais cedo for tomado, maior a sua eficiência como método de contracepçao de emergência, explica o ginecologista e professor da Unifesp (Universidade Federal de Sao Paulo, a antiga Escola Paulista de Medicina) Jorge Andalaft.

O Postinor-2 provoca uma alteraçao na parede do útero impedindo a fixaçao do óvulo fecundado (nidaçao), ou a sua liberaçao do ovário antes da fecundaçao. É considerado um método confortável de contracepçao de emergência. No entanto, antes mesmo de ser lançado, os ginecologistas já receitavam o uso em um período de tempo curto de doses ampliadas de hormônios - que é exatamente o que o Postinor faz.

De acordo com Andalaft, podem ser usados como alternativa os remédios Evanor e Anfestil, dois outros anticoncepcionais de alta dosagem disponíveis no mercado brasileiro ao preço médio de R$ 4. Tal como o Postinor, quanto mais cedo forem tomados, maior a chance de impedir a gravidez indesejada. A dosagem é também sem segredo: dois comprimidos nas primeiras 72 horas e outros dois, 12 horas depois. "Mas a segurança e a eficácia dos dois métodos é a mesma, acima de 90% se tomados nas primeiras 24 horas depois do relacionamento", garante Andalaft.

As vantagens do Postinor-2 sao que ele é mais fácil de ser tomado, provoca menos náusea e representa uma dosagem hormonal menor. Enquanto os dois anticoncepcionais alternativos contêm compostos sintéticos equivalentes aos hormônios progesterona e estrógeno, o Postinor é o primeiro a usar apenas progesterona. "A grande indicaçao desses métodos sao exatamente as mulheres que nao usam anticoncepcionais rotineiramente - porque as que tomam nao precisam", afirma Andalaft.

Chefe do serviço de ginecologia do Hospital Municipal Universitário de Sao Bernardo, e presidente da Fundaçao Faculdade de Medicina do ABC, o ginecologista Geraldo Reple Sobrinho, porém, teme que o Postinor-2 "vire rotina", diminuindo a eficácia do método e atrapalhando o ciclo menstrual normal. "Mas sou extremamente favorável a ele, principalmente nos casos de estupro - e, eventualmente, quando o preservativo furou."

O uso contínuo dos métodos de contracepçao de emergência, porém, nao tem sentido numa vida sexual ativa, avalia Reple. "O Postinor-2 se usa uma vez ao mês, enquanto os outros métodos sao para proteger durante o mês inteiro."




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