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Jornalismo arejado com ibope
Mauro Trindade
Da TV Press
21/08/2008 | 07:07
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O humor adolescente e debochado do CQC, que a Band exibe às segundas (22h15) e aos sábados (20h15), conseguiu superar as baixas audiências iniciais e hoje já encosta nos programas esportivos, até então responsáveis pelos maiores ibopes da emissora. Semana passada, o Custe o Que Custar marcou oito pontos na média. E, desde maio, tem dobrado a audiência da Band no início da semana. O programa está tão em alta que conseguiu enviar uma equipe para as Olimpíadas de Pequim.

Com um estilo escrachado próximo do Pânico na TV!, o CQC difere do concorrente por apostar mais em pautas políticas do que na perseguição de celebridades em portas de festas. Nem sempre a irreverência de suas abordagens corresponde a um conteúdo igualmente insolente, mas o programa tem procurado oferecer mais criatividade ao lidar com a notícia.

O que representa um esforço de ir além do convencionalismo da maioria das reportagens televisivas, tantas vezes reduzidas a meros veículos de declarações oficiais das autoridades. Há pouca argumentação no ar, o que deixa muito político à vontade para regurgitar absurdos, com a certeza de que os repórteres não ousarão discutir o que foi dito.

A procura de novas formas para o telejornalismo está presente em diversos momentos da televisão contemporânea e a aproximação com o humor é apenas uma delas. As reportagens dramatizadas que o Fantástico realiza, a aproximação com o cinema-verdade que Profissão: Repórter procura imprimir são exemplos deste esforço. Há um modo cada vez mais interativo entre a reportagem e os entrevistados, seja pela própria presença dos jornalistas, seja pelo tom invasivo e escrachado que se procura impor às coberturas.

A figura do repórter dentro de um paletó com pretensão de respeitabilidade ganhou como contraponto o terno negro e os óculos escuros sacados do filme Homens de Preto. É uma paródia de uma paródia, em um exercício que procura desmontar a maneira como o jornalismo constrói a realidade para os telespectadores. Existem outras interpretações possíveis.

Os repórteres do CQC mantêm o deboche, mas agora evitam certos excessos verbais e mesmo as interferências gráficas - desenhos que aparecem durante as reportagens - são aplicadas com mais eficiência. A fronteira entre o espetáculo e o jornalismo é uma região instável e sujeita a disputas, mas a decisão do Congresso de impedir a entrada do CQC na Câmara e no Senado não tem discussão. Tolerância faz parte da democracia.




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