O 30º Dia Mundial Sem Tabaco é comemorado neste sábado com a constatação de que os fumantes ainda têm dificuldade de largar o vício. Segundo pesquisa de dissertação de mestrado na Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) da psiquiatra e chefe do Setor de Dependência Química da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro Analice de Paula Gigliotti, 80,5% dos fumantes querem largar o vício, mas a maioria tem dificuldade de parar. Em média, as tentativas chegam até a 5,2 vezes.

O levantamento foi realizado com 800 fumantes, distribuídos por São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Recife, na faixa etária dos 14 aos 65 anos.

“É impossível reduzir o número de fumantes porque a população cresce em progressão geométrica. Todas as ações até hoje eram relacionadas à prevenção para menores de idade e ainda não haviam medidas para estimular o tratamento para quem já fumava, que se intensificou mais no ano passado, com centros de tratamento de nicotina.”

Segundo Analice, a grande maioria dos entrevistados afirmou que a preocupação com a família é um motivador para parar de fumar. “É interessante perceber que o carinho pelos outros faz dependentes perderem o vício porque são conscientes sobre o malefício ao fumante passivo”,afirmou.

Experiências – O agente comercial Sérgio Peña Trindade, 44 anos, que freqüenta o Grupo do Tabaco, do Caps-DQ (Centro de Atenção Psicossocial de Dependentes Químicos) de Santo André, afirma que enfrenta uma batalha para parar de fumar. “São mais de dois maços por dia desde a adolescência. Agora cheguei a um maço e decidi parar de fumar, porque não quero ter um enfisema pulmonar”, contou. Durante todos esses anos, ele diz que conseguiu ficar sem cigarros por oito meses. “Mas, no primeiro dia que voltei ao vício, fumei um maço inteiro sem parar e meu corpo chegou a ficar todo dormente”, recordou.

A dona de casa Alzira de Souza Barros, 53 anos, tem uma história de 40 como fumante. “Tudo começou porque queria parecer uma adulta e ser incluída na roda de amigos. Foram três maços de cigarro por dia durante décadas. Faz um ano que passei a conhecer os verdadeiros prejuízos do hábito de fumar.” Ela começou a participar do Grupo do Tabaco de Santo André e atualmente consegue fumar um maço por dia. “Eu fiquei preocupada porque já estava com perda de memória, cansaço físico constante e falta de sono”, afirmou.

De acordo com o professor de pneumologia da Unifesp e diretor do Prev-Fumo (Núcleo de Cessação e Prevenção de Tabagismo da Unifesp, José Roberto Jardim, o tabagismo é uma dependência química da nicotina na célula cerebral similar à heroína, cocaína e morfina. Ele alerta que no Brasil morrem cerca 200 mil pessoas em decorrência de doenças provocadas pelo fumo. São mais de 50 tipos de doenças.

Programação – A Prefeitura de São Bernardo vai realizar uma caminhada para chamar a atenção aos perigos do tabagismo, sábado, a partir das 8h30. O ato vai começar na Praça da Matriz e irá percorrer a rua Marechal Deodoro, no Centro da cidade.

Em Rio Grande da Serra, terça-feira, agentes de saúde vão fazer um trabalho porta-a-porta de conscientização da população sobre os malefícios do tabagismo. Na sexta, às 13h, acontecerá uma palestra sobre ações anti-tabagistas na antiga UBS (Unidade Básica de Saúde) da Vila Conde (rua Barueri, Vila Conde Siciliano). O evento é aberto ao público.