O ex-presidente iugoslavo Slobodan Milosevic estaria vivo se tivesse recebido tratamento adequado, afirmou nesta segunda-feira o cardiologista russo Leo Bokeria, diretor do centro moscovita de cirurgia cardiovascular Bakulev, que na terça-feira viajará para Haia com vários colegas. "Milosevic morreu porque os exames médicos não foram suficientes", declarou o cardiologista, citado pela agência russa Interfax.

Segundo Bokeria, diante dos problemas cardiovasculares do ex-presidente iugoslavo, os médicos "deveriam ter feito uma coronariografia para ver o nível de contração dos vasos sangüíneos. Se tivessem colocado alguns 'stents' (dispositivos para manter abertos os vasos sangüíneos) e depois submetido Milosevic a uma cirurgia, a situação seria outra". "O problema tem solução em dezenas de países do mundo e, se Milosevic tivesse recebido essa ajuda, ainda estaria vivo", acrescentou.

Bokeria comandará um grupo de especialistas do centro moscovita Bakulev que viajará na manhã de terça-feira a Haia, segundo o ministério russo da Saúde. Milosevic, que sofre de hipertensão e de problemas cardiovasculares, havia pedido permissão nos últimos meses para ser transferido para o centro cardiológico da capital russa.

O ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, declarou nesta segunda-feira que "tem o direito de não confiar" na autópsia feita em Milosevic, realizada em Haia no domingo e segundo a qual o ex-presidente iugoslavo morreu devido a um infarto do miocárdio. Lavrov anunciou o envio de uma delegação de médicos russos a Haia para, "pelo menos, conhecer" os resultados da autópsia.

Suicídio – O toxicólogo holandês Ronald Uges afirmou nesta segunda-feira que Slobodan Milosevic poderia ter se matado. Ele teria ingerido, de maneira deliberada, um medicamento não receitado que anulou o efeito de seu tratamento contra a hipertensão. "Ele tomou (um medicamento que continha) rifampicina, um fármaco que anula o efeito dos tratamentos contra a hipertensão", explicou Uges, que realizou um exame do sangue do ex-presidente há duas semanas. "Ele ingeriu este medicamento por conta própria e o fez para obter, dessa maneira, uma viagem de ida a Moscou", acrescentou.

Slobodan Milosevic pediu, em dezembro passado, ao TPI (Tribunal Penal Internacional) para a antiga Iugoslávia sua transferência a Moscou para receber atendimento médico, mas a solicitação foi negada. Os juízes consideraram que ele gozava de atenção médica adequada em Haia e que se partisse para a Rússia podia não voltar a apresentar-se ao julgamento.

Slobodan Milosevic foi encontrado morto no sábado por causa de um infarto do miocárdio em sua cela de prisão no TPI em Haia, afirma o relatório da necropsia.