Neste sábado tem arte, folguedo e fogueira na Vila de Paranapiacaba, em Santo André. A partir das 17h, com entrada franca e avançando pela noite e madrugada, acontece a 1ª Roda de Cultura Popular diante do Núcleo Comunitário Pesquisa em Arte e Artesanato Cerâmico (r. Schinnor, 404, parte baixa da Vila). É um projeto piloto, uma prévia improvisada de um evento que pretende se tornar anual na Vila, a abertura ritual das fornadas de cerâmica com rodas de cultura popular.

Desta vez não será possível acender o forno – não ficou pronto o novo forno caipira do Núcleo, que utiliza o da antiga padaria, a primeira da Vila, para seus trabalhos. Este evento está programado para a semana da Páscoa, em abril, data prevista para a realização da 2ª Roda. Contudo não faltará fogo neste sábado. O calor da noite virá de uma fogueira, pois a intenção é que o evento seja ao ar livre e o mais natural possível, sem auxílio de som mecânico nem regalias tecnológicas. Em caso de mau tempo, a sede do Núcleo – antiga Casa dos Solteiros – abrigará o evento.

Como se trata da primeira roda do gênero, há a intenção de torná-la periódica. "As tradições surgem assim. Alguém tem uma idéia e sua repetição ao longo do tempo faz a tradição", disse Rogério Amorim, do grupo de pesquisa de cultura popular Toadas a Trovoadas, nascido dentro da ONG Arca (Associação Ribeirão-pirense de Cidadãos Artistas). O grupo organiza esta roda em Paranapiacaba junto com o Núcleo de Cerâmica.

Amorim, que também integra o grupo musical K-Ram-K, disse que esta 1ª Roda de Cultura Popular pretende se aproximar ao máximo do tradicional, da raiz popular, mesmo que os convidados não tenham a tradição no sangue. "Os grupos convidados são parafolclóricos, em maioria, isto é, não surgiram na comunidade nem vieram de tradição familiar. Foram formados por pessoas interessadas em cultura popular, que tomaram gosto por este gênero cultural", disse.

O que não quer dizer que não haverá manifestações locais. "Artesãos e artistas foram convidados, deixamos em aberto para as pessoas levarem obras para exposição e a parte de alimentação será produzida pelo próprio pessoal da Vila", afirmou. Neste item as opções são frango no barro, bolinhos de pinga, caldos quentes, pão com alho e vinhos. Brinquedos e brincadeiras de origem popular também estão previstos. Na parte musical, danças, cantorias, cirandas e, principalmente, batuques de influência afro-brasileira. Haverá jongo, maracatu, samba de roda, maculelê, cacuriá. Foram convidados os grupos Sambaqui, Ilê Alesia, Viralatisse e Toró, todos de São Paulo.

Em artesanato, artistas do Núcleo mostrarão seus trabalhos, com destaque para Ever de Assis, artista plástico que tem ateliê-residência na Vila, que mostrará trabalhos contemporâneos em cerâmica, e Dona Anésia, gari que mora há 40 anos na Vila e faz gamelas. Tony Gonzagto, pesquisador de materias e ceramista, também faz parte do projeto, entre outros.

O modelo é a abertura dos fornos dos ateliês de cerâmica em Cunha (SP), geralmente acompanhada de atrações de música erudita. Elas ocorrem ao longo do ano naquela cidade, referência desta arte no Estado, e servem para os artesãos mostrarem seus trabalhos para turistas e colecionadores. Para Wal Volk, artista e educadora do Núcleo de Cerâmica, a diferença é que o projeto piloto que se inicia hoje em Paranapiacaba é de iniciativa da comunidade local e é coletivo. "É um trabalho que pretende atrair para a Vila o turismo cultural, apostando na cultura como meio de sustentabilidade. É a comunidade se organizando pela arte", disse.

Outra aposta é que as próximas Rodas de Cultura Popular se tornem o segundo grande evento da Vila, atrás do Festival de Inverno. "A proposta é tornar a Vila um pólo para artistas alternativos, para lideranças de movimentos culturais independentes e para universitários que queiram discutir a cultura popular", afirma Wal.