Os poucos mais de 30 km que separam o Grande ABC do bairro do Morumbi, em São Paulo, parecem insignificantes para três jovens da região que estão a poucos passos de realizar o sonho de ser jogador profissional de futebol. Bruno Andrade, de São Bernardo, Victor Ramos, de Diadema, e Felipe Bimbati, de Mauá, jogam no Pão de Açúcar Esporte Clube e desde fevereiro moram no centro de treinamento da equipe, na zona sul da Capital, depois de passar por um verdadeiro vestibular da bola. Lá têm vida de atleta profissional, com regras, horários, disciplina e treinamentos específicos.

"Todo garoto sonha em jogar num time grande, mas pra gente era muito difícil: só ia para a escola e jogava na rua ou na várzea. Agora está mais fácil, levamos vida de profissional com acompanhamento dos médicos, preparador físico, alimentação controlada e treinos todos os dias. Sem contar que não tem mais aquele carinho da mãe e do pai. Aqui tem de aprender a ser homem grande", diz Bruno, 15 anos. Os atletas retornam à casa da família nos fins de semana, no entanto, quando têm jogo, só visitam os pais no domingo e na segunda-feira.

Victor, 17 anos, também sente saudades da família e dos amigos do Jardim Vera Lúcia, em Diadema, mas reconhece que este é o preço para quem quer fazer sucesso no esporte. "Às vezes é complicado, mas sei que morar no CT está me ajudando a jogar melhor. Nunca pensei em ser profissional, mas depois que entrei no Pão de Açúcar vi que dava para fazer carreira no futebol. Sei que tem muita gente de olho, quem sabe algum clube grande não chama para fechar um contrato."

Felipe, 15 anos, também sonha alto. Mirando-se no exemplo do atacante Ronaldinho Gaúcho, do Barcelona, faz planos para jogar na Europa. Até o início do ano morava com os pais e mais três irmãos na favela do Jardim Oratório, em Mauá. Agora defende o infantil do Pão de Açúcar e repassa para a família os R$ 100 que recebe de ajuda de custo - no juvenil, o benefício dobra. "Meu pai nunca deixou a gente passar necessidade, mas agora ele pega papelão na rua e por isso faço questão de ajudar em casa."

Celeiro - O vestibular para entrar na equipe do Pão de Açúcar é feito pela SuperCopa CompreBem, que no ano passado teve mais de 71 mil inscritos. Pouco mais de 2 mil participaram da competição, que selecionou 72 atletas para fazerem parte do time, divididos na categorias sub 15 (infantil) e sub 17 (juvenil). Aqueles que moravam longe do CT, como Bruno, Victor e Felipe, tiveram o privilégio de passar a semana no alojamento e iniciar a vida de atleta profissional. Quem não passou no vestibular da bola participa da Escola de Varejo e pode ser aproveitado no quadro de funcionários do Grupo Pão de Açúcar.