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Acusado de matar Celso Daniel muda depoimento e indica autor
Kléber Werneck
Do Diário do Grande ABC
19/04/2003 | 20:40
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Em depoimento prestado ao Ministério Público, ao qual o Diário teve acesso com exclusividade, L.S.N., o Lalo, negou que tenha sido o autor dos disparos que vitimaram o prefeito Celso Daniel em janeiro do ano passado, como afirma a versão oficial sustentada pela polícia. Lalo, que completou 18 anos em fevereiro, disse aos promotores ter sido obrigado a assumir o crime para proteger sua avó, que teria sido ameaçada de morte pelos demais integrantes da quadrilha, e aponta José Edison da Silva como o verdadeiro executor. O depoimento revela ainda que outro seqüestro foi realizado pelo mesmo grupo junto com o de Celso e traz a participação de um novo componente da quadrilha – fatos que nunca foram tratados com seriedade pela investigação policial. Ivan Rodrigues da Silva, o Monstro, líder da quadrilha, já havia dito que L.S.N não era o autor dos disparos, mas sim José Edison, em depoimento ao delegado Edson Santi do Deic (Departamento de Investigações Criminais).

O depoimento de Lalo, datado de 25 de novembro do ano passado, faz parte do inquérito 362/02, que está na Delegacia de Homicídios de Osasco, que investiga o seqüestro da engenheira E.M.S.T.,de 26 anos, de autoria da mesma quadrilha e realizado concomitantemente ao do prefeito de Santo André. O crime foi elucidado pelos promotores do Gaerco ABCD (Grupo de Atuação Regional Especial para Prevenção do Crime Organizado), durante as investigações do caso Celso. A descoberta reforça os questionamentos acerca da veracidade da versão oficial do crime.

Lalo desmente a história contada por ele nos primeiros depoimentos sobre a morte de Celso e na reconstituição do crime. Atribui a execução a José Edison e afirma que a versão apresentada pela polícia foi “montada” pelos criminosos para proteger José Erivan, o Van, irmão do verdadeiro autor dos disparos. Para obrigá-lo, os outros integrantes da quadrilha ainda teriam ameaçado matar sua avó, caso não aceitasse. “(...) desde o início ficou bastante claro para o declarante que ele deveria assumir a morte do prefeito, inclusive para proteger sua avó de ameaças de José Edison e do restante do grupo, bem como, conforme dito acima, para tentar preservar o irmão de José Edison”, diz o menor no depoimento.

Van não consta na relação de 14 integrantes da quadrilha apresentados pela polícia como participantes do crime. Ele foi preso em setembro do ano passado, na favela do Jardim Ester, junto com Elcyd Oliveira Brito, o John, que dirigiu a Blazer verde que perseguiu o prefeito no dia do seqüestro. Van estava preso apenas por porte ilegal de arma até os promotores descobrirem sua participação no seqüesto da engenheira.

O grupo administrou os dois seqüestros simultaneamente, segundo Lalo. E. foi seqüestrada por Lalo, Van e José Edison – até agora confirmados como participantes – três dias antes da captura do prefeito, e permaneceu nove dias na casa do último, no Capão Redondo, em São Paulo, que foi utilizada como cativeiro. Celso, seqüestrado no dia 18, foi levado para um sítio em Juquitiba, que já havia sido utilizado pela quadrilha em outros crimes. Segundo o depoimento, a quadrilha acreditava que Celso era uma “pessoa importante”, porque houve até troca de tiros na abordagem. Lalo afirmou também que a quadrilha soube que o seqüestrado era o prefeito de Santo André, pelo noticiário da Rede Globo.

Na madrugada de sábado, dia 19, segundo o relato de Lalo, o Monstro ligou para José Edison e determinou que o prefeito fosse assassinado. A ordem de execução foi expressa e não houve qualquer menção à liberação da vítima, como afirma a versão policial. “O declarante (Lalo) tem certeza de que a ordem era mesmo a de matar a vítima e não simplesmente soltá-la, como agora querem fazer acreditar”, afirma o documento.

O próprio Lalo foi quem buscou Celso no cativeiro. O prefeito estava encapuzado e foi colocado no porta-malas do Monza de Van, mas que estava com José Edison. Eles saíram do sítio e tomaram a rodovia Régis Bittencourt, depois acessaram uma estrada secundária de terra até chegar ao local do assassinato.

José Edison, que estava ao volante, determinou que o menor assumisse a direção. Depois, saiu do carro e retirou o prefeito do porta-malas. Sacou uma pistola 9 milímetros e executou Celso Daniel com “cerca de sete a oito tiros”. Durante toda a ação, Lalo afirma ter permanecido no veículo. No depoimento, os promotores ainda concluem que “é por isso que a versão que consta da reconstituição, fornecida pelo próprio declarante, não confere com os disparos que a vítima sofreu”.

L.S.N. comenta ainda a contradição das duas versões apresentadas e revela seu temor: “(...) esclarece que fez isso para preservar sua integridade e a de sua família, pois sabe que pessoas que estão soltas monitoram seus passos através de celulares que conseguem nos interiores de presídios onde encontram-se detidos.”




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