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FHC pede igualdade em reuniao de "reformistas" na Itália
Do Diário do Grande ABC
21/11/1999 | 19:43
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O governante de país pobre está sempre fazendo "escolhas de Sofia", disse hoje o presidente Fernando Henrique Cardoso, durante a conferência O governo Progressista para o Século 21. Ou controla a inflaçao e repoe a economia em condiçoes de interagir com o sistema financeiro internacional ou atende com mais rapidez às demandas sociais. Precisa decidir se mantêm o orçamento equilibrado ou se aumenta os gastos com a educaçao. Se mantêm o orçamento equilibrado ou corta as pensoes. "Dada a ausência de capital e de recursos financeiros, estamos sempre fazendo escolhas dramáticas", disse.

No seu discurso, Fernando Henrique chegou a citar "um filme famoso" sobre o problema das escolhas. O filme chama-se "A escolha de Sofia" e narra o drama de uma mae que, presa num campo de concentraçao nazista durante a Segunda Guerra Mundial, foi obrigada a escolher entre dois filhos aquele que iria para a câmara de gás.

Esse paradoxo da escolha entre extremos nao tem soluçao, reconheceu o presidente brasileiro. Por essa razao, Fernando Henrique defendeu a tese de que é preciso uma certa "dose de bom senso" para produzir uma política econômica equilibrada, com equilíbrio fiscal mas que nao destrua o tecido da sociedade. "Uma política que procure conservar ao máximo um mínimo de condiçoes sociais para que haja uma sociedade coesa. "Na visao do presidente, o principal desafio de qualquer governo progressista é conjugar medidas necessárias de ajuste econômico com políticas sociais que reduzam a exclusao social.

De acordo com o presidente, os eleitores do Brasil, Alemanha, Estados Unidos, França, Itália e Inglaterra (ele citou os países cujos chefes de governo participaram da conferência) entregaram aos seus líderes a missao de impedir que "a burocracia sufoque o dinamismo da economia" e que "o fundamentalismo de mercado sufoque o conjunto da populaçao". A luta contra esses dois extremos é, na opiniao de Fernando Henrique Cardoso, um dos princípios da "terceira via" ou da "governança progressista".

Direita cega - Reformar o Estado é indispensável. Para Fernando Henrique, o Estado precisa ser mais descentralizado, mais baseado nas organizaçoes locais e com a participaçao crescente da sociedade civil. Mas essa reforma nao é fácil, disse o presidente brasileiro. "A esquerda atrasada se junta com a direita cega e bloqueia a açao reformadora do Estado", disse. "Mas se o governo nao for eficiente, o fundamentalismo de mercado sufocará completamente as possibilidades de bem-estar social".

Fernando Henrique criticou os setores da esquerda que consideram a proposta da "terceira via" um disfarce para a manutençao da economia de mercado. Criticou também os grupos "enraizados no Estados" na defesa dos "interesses conspícuos de grupos dominantes de sempre". Segundo ele, esses dois setores se aliaram para bloquear qualquer modificaçao do aparelho de Estado que quebre o clientelismo, o patrimonialismo e as práticas tradicionais que impedem que um governo eficiente.

"Temos que resolver o passado e apontar caminhos para o futuro", disse o presidente. Ele citou os avanços conseguidos por seu governo nas áreas sociais, disse que 96% das crianças brasileiras estao atualmente na escola e que conseguiu assentar 280 mil famílias de trabalhadores rurais. Informou ainda que em breve o Brasil se livrará do analfabetismo. "O ajuste econômico nao poderá deformar esses programas sociais, que nao sofrerao cortes."

Fernando Henrique iniciou o seu discurso em inglês. Apenas para dizer que falaria em português, pois desejava lembrar aos participantes da conferência que era o presidente de um país emergente. Em poucos momentos, quando quis evitar que os tradutores confundissem certas idéias e palavras, voltou a falar em inglês. Ao término da reuniao, agradeceu ao primeiro ministro da Itália, Massimo D'Alema, em italiano.




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