Com o interesse do público em alguns filmes nacionais, como Carlota Joaquina - A Princesa do Brasil, Central do Brasil e O Auto da Compadecida, criou-se um termo para designar esse comportamento: retomada. O uso da expressao, entretanto, pode ser debatida, afinal, poucas produçoes conseguem superar os limites impostos por problemas como distribuiçao e chegar e agradar ao público.

A Rede Globo exibe a partir desta segunda o Festival Nacional, composto por sete filmes, exibidos em horário nobre. Alguns conseguiram sobreviver na programaçao dos cinemas, como Orfeu e Zoando na TV. Outros certamente sao desconhecidos pela grande maioria do público - casos de Buena Sorte e O Corpo - que agora tem pelo menos a oportunidade de saber sobre a existência de tais obras.

Nesta segunda será exibido Zoando na TV, uma bobagem que certamente só agradará aos fas mais ardorosos da apresentadora Angélica, decepcionante como atriz. Ela interpreta Angie, garota que tem como maior pretensao se casar com o namorado Ulisses (Márcio Garcia). A meta, entretanto, pode ser extinta, já que ele é sugado para dentro da telinha. Para salvá-lo, ela se aventura no mundo dos programas televisivos.

O comercialismo é característica marcante também em Buena Sorte, que integra a programaçao de terça. Com problemas de distribuiçao, o filme, contudo, nao cumpriu essa ambiçao. Marcos Palmeira protagoniza a aventura transcorrida no cenário dos grandes rodeios realizados no Estado do Texas (EUA) e em Barretos, cidade do interior de Sao Paulo.

For All - O Trampolim da Vitória, que será mostrado na quarta-feira, apesar do fraco roteiro, nao é ruim. O filme narra as mudanças ocorridas na família Sandrini com a chegada de 15 mil soldados norte-americanos em Natal (RN) durante a Segunda Guerra. Betty Faria e José Wilker sao os destaques.

O incomum Amor & Cia é uma boa surpresa, com transmissao programada para quinta-feira. Baseado na novela Alves & Cia, de Eça de Queiróz, o filme custou cerca de R$ 3 milhoes, alto orçamento para os padroes brasileiros. O diretor Helvécio Ratton comandou com segurança um bom roteiro, ótimos atores (destaque para Marco Nanini, como Alves, o marido traído e apaixonado, e Patrícia Pillar, a romântica esposa), cenografia, figurinos e direçao de arte de brilhar os olhos.

Casamentos nao-convencionais já foram retratados pelo cinema nacional antes de Eu Tu Eles. Baseado em conto de Clarice Lispector, a comédia O Corpo, atraçao de sexta-feira, comprova isso. O farmacêutico Xavier (Antônio Fagundes) convive sob o mesmo teto com duas mulheres, as ótimas Marieta Severo e Cláudia Jimenez.

No sábado, Bela Donna mostra uma história conhecida dos brasileiros. Adaptaçao do romance Riacho Doce, de José Lins do Rêgo, que também inspirou uma série de TV protagonizada por Vera Fischer e Carlos Alberto Riccelli, parece propaganda de praias cearenses. Donna é vivida pela canadense Natasha Henstridge, a mutante de A Experiência, e Eduardo Moscovis é o pescador Nô.

O Festival Nacional termina no domingo com o discutido Orfeu. A transposiçao do mito grego para uma favela carioca foi do poeta Vinicius de Moraes, que criou a peça Orfeu do Carnaval. Em 1959, o francês Marcel Camus adaptou a obra para o cinema, realizando o premiado Orfeu Negro. O interesse dos estrangeiros foi grande, mas os brasileiros se decepcionaram com os estereótipos. Cacá Diegues, um deles, levou às telas sua adaptaçao 40 anos depois.

Nao sao poucos os méritos, como cenografia, trilha-sonora, roteiro e, principalmente, a direçao. Mas as interpretaçoes constrangedoras de Toni Garrido e Patrícia França, protagonistas, e o péssimo uso de merchandising interferem imensamente na satisfaçao dos espectadores.