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Mais de 100 mil pessoas comparecem ao velório de Raul Cortez
Do Diário OnLine
Com AE
19/07/2006 | 17:34
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Aproximadamente 120 mil pessoas compareceram nesta quarta-feira ao velório do ator Raul Cortez, realizado no Teatro Municipal de São Paulo. Antes da porta ser aberta ao público ao meio-dia, foi realizada uma cerimônia com a presença amigos e familiares e posteriormente padres do Colégio São Bento, onde Cortez estudou, rezaram uma missa.

No final do velório, que durou cerca de dez horas, os presentes aplaudiram a saída do caixão, que foi colocado em cima de um carro do Corpo de Bombeiros.

A pedido do ator, o corpo foi levado para o crematório da Vila Alpina, na Zona Leste da capital. As cinzas do corpo devem ser lançadas no terreno do sítio da família, em Porto Feliz (112 km de São Paulo).

Raul Cortez, 73 anos, morreu nesta terça, às 20h15, em função de complicações relacionadas a um câncer no pâncreas. Cortez estava internado no Hospital Sírio-Libanês desde o dia 30 de junho. O ator deixa duas filhas, Ligia, que teve com Célia Helena, e Maria, com Tânia Caldas, além das duas netas, Vitória e Clara, filhas de Ligia.

O drama de Raul Cortez começou em dezembro de 2004, quando foi operado para a retirada de um tumor na região do pâncreas e intestino delgado. Na época, ele atuava na novela da Rede Globo, Senhora do Destino, em que fazia o papel do Barão de Bonsucesso e teve de abandonar as gravações, retornando no meio de seu tratamento para concluir o trabalho.

Indeciso entre jornalismo, direito e teatro, desnecessário dizer qual foi a profissão pela qual optou. Gravou seu primeiro filme aos 25 anos (O Pão Que o Diabo Amassou, em 1957) e de lá para cá não parou mais: participou de 66 peças teatrais, 20 novelas, seis minisséries e 28 filmes. Seu trabalho mais recente no cinema foi O Outro Lado da Rua, que gravou em 2004 juntamente com a renomada Fernanda Montenegro.

Sua carreira foi marcada por uma interessante conciliação de facetas que costumam atritar-se. Conseguiu ser ao mesmo tempo artista ousado, meter-se em projetos libertários, e também engajado, além de cultivar a imagem de artista do chamado 'teatrão' e fazer sucesso popular na televisão.

Em 1970, ousou com o primeiro nu masculino no teatro brasileiro na famosa montagem de O Balcão, dirigida por Victor García e atuou sob direção de Zé Celso no Oficina. Também foi dirigido mais de uma vez por Antunes Filho em peças como Quem Tem Medo de Virgínia Woolf, interpretação que lhe valeu os prêmios Molière, Mambembe, APCA e Apetesp, e Vereda da Salvação.

Perfil – Raul Christiano Machado Cortez nasceu no dia 28 de agosto de 1932 em São Paulo. Estudante de Direito passou a freqüentar o famoso Nick Bar, vizinho ao TBC (Teatro Brasileiro de Comédia). Ali conheceu Ítalo Rossi, que o levou ao Teatro Paulista do Estudante, onde estreou sob direção de Ítalo em O Impetuoso Capitão Tick, em 1955.

Pouco depois, faria um teste para o TBC e enfrentaria seu primeiro fiasco. Por sua bela voz, o então rapaz espigado – 1,81 metros de altura – seria escolhido para um efeito 'sonoro' especial. No dia da estréia ficou mudo. Por conta disso, ficaria quatro anos fazendo praticamente figuração no TBC. Finalmente saiu da geladeira e seu talento começou a brilhar ao substituir Leonardo Villar no papel de Biff, em A Morte do Caixeiro Viajante.

Nesse período, atuou sob direção de Antunes no Pequeno Teatro de Comédia em O Diário de Anne Frank. Na Cia. Cacilda Becker viajou para a Europa com um repertório bastante eclético. Sob direção de Antunes atuou em Yerma, de Lorca, sob a de Ziembinski em Boca de Ouro, de Nélson Rodrigues.

Em 1963 já ganhava o APCA de ator coadjuvante por sua atuação em Os Pequenos Burgueses, sob direção de Zé Celso. "Foi uma montagem inédita no teatro brasileiro", diria Cortez anos depois. "Os Pequenos Burgueses tinha o poder que o teatro deve ter de mudar o comportamento das pessoas. Jovens, estudantes, as pessoas que assistiam à essa montagem mudavam de vida."

Cortez foi um dos fundadores da Apetesp, em 1974, e também seu presidente, durante muitos anos. Em 1979, com 48 anos, já tinha uma carreira repleta de prêmios teatrais e levado ao palco personagens de: Edward Albee, Molière, Lorca, Jean Genet, Gorki, Nélson Rodrigues, Jorge Andrade e muitos outros. Mas foi no início da década de 80, que seu sucesso na televisão teve início: sua popularidade na telinha explodiu por conta de sua atuação na novela Água Viva. Sucesso televisivo, no seu caso, não significou interrupção nos palcos. Nesse momento, quando muitos de sua geração levavam ao palco confortáveis solos no estilo 'balanço de carreira', Raul Cortez mostrava jamais ter deixado morrer a chama do jovem rebelde que contrariou à família para tornar mais interessante o teatro brasileiro.




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