Economia Titulo Emprego
Região tem deficit de 13,9 mil cuidadores
Soraia Abreu Pedrozo
Do Diário do Grande ABC
23/04/2012 | 07:26
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André Henriques/DGABC


O Grande ABC tem potencial para empregar pelo menos 13,9 mil cuidadores de idosos, função que consiste em auxiliar essas pessoas a realizar atividades que não conseguem mais fazer sozinhas, como tomar banho, se arrumar, ir ao médico, tomar os remédios na hora certa, além de lhes fazer companhia, por isso, características como bom humor, carinho e paciência são fundamentais.

A estimativa é feita com base no total de residentes acima de 60 anos nas sete cidades, que somam 278 mil, de acordo com os dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). "Considerando que apenas 5% dessas pessoas necessitem de cuidador, têm-se aí um amplo mercado de trabalho para a atividade na região", avalia Gisele Smith, diretora do Grupo Vida, Amor e Riso, de Santo André, que atua na capacitação dos cuidadores e já está em sua 16ª turma.

A perspectiva ganha força no fato de que, a cada ano, as pessoas vivem mais. Para se ter ideia, de 30 anos para cá, conforme o IBGE, a expectativa de vida do brasileiro aumentou 11,5 anos. Ou seja, nos anos 1980, se vivia, em média, até os 61,7 anos. Nos dias atuais, até os 73,5 anos.

CENÁRIO - Atuam hoje no Grande ABC apenas 500 desses profissionais. E existem vagas, para início imediato, para outros 500. Porém, antes de começar o trabalho, é preciso realizar um curso de preparo ao cuidador, que consiste em pelo menos 100 horas de treinamento.

Pelo fato de a atividade de cuidador ainda não ser reconhecida como profissão, mas como ocupação, não se tem uma regulamentação do setor. Ela é classificada como CBO (Classificação Brasileira de Ocupação), número 5162, desde 2002. À época, o então Ministro da Saúde José Serra instituiu o ofício motivado pelo fato de achar alguém para cuidar de sua mãe com mal de Alzheimer.

Existem, no entanto, três projetos de lei tramitando no Congresso a fim de regularizar a atividade e, então, estabelecer o que é preciso para exercê-la, se curso técnico, faculdade, quantas horas de treinamento, piso da categoria e benefícios, entre outros itens.

Enquanto nada disso acontece, o cuidador é enquadrado como empregado doméstico, seja para o registro em CLT ou para se formalizar como empreendedor individual, modalidade em que o profissional adquire CNPJ e emite nota fiscal pagando apenas R$ 31,10 de INSS mais R$ 5 para o ISS e/ou R$ 1 para o ICMS.

Gisele conta que o MTE (Ministério do Trabalho e Emprego) concorda em tornar a função em profissão se houver ao menos cinco associações no País. Atualmente, só existe em Minas Gerais. Porém, no dia 5, serão inauguradas uma no Rio de Janeiro e outra em São Paulo, que vai abranger toda a Região Metropolitana. "Acredito que isso deva acontecer logo, pois eu recebo, por dia, de quatro a cinco telefonemas de famílias em busca de um profissional que eu não o tenho, pois, dos que se formam aqui, pelo menos 33% já vêm empregados", conta Gisele.

Ela afirma que, quem está disposta a financiar a realidade desse mercado, são as classe B e C, que juntam filhos e netos para pagar o salário do cuidador, em vez de levar o idoso para morar com eles ou em um asilo.

Em alguns casos, é cobrado dos candidatos o Ensino Fundamental completo, como no curso oferecido pela USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul), que está indo para sua 3ª turma. "Recebo cerca de três ligações diárias pedindo cuidadores e, alguns deles, me pedem pessoas que tenham CNH e que possam levar o idoso a consultas médicas, por exemplo, ou que fale outro idioma para o acompanhar em cruzeiros", relata a coordenadora do curso Simone Garcia. "Embora ainda não haja regulamentação, esperamos que saia até o fim do ano. Enquanto isso, o próprio mercado já está regulando."

 

Função pode ser desempenhada por quase todas as idades

Podem ser cuidadores de idosos pessoas que tenham desde 18 até 65 anos. O perfil atuante na região hoje, entretanto, é de mulheres de 35 a 60 anos. "Muitas delas não encontram mais lugar no mercado de trabalho ou sempre foram donas de casa e decidiram começar a ganhar seu dinheiro", explica Gisele Smith, diretora do grupo Vida, Amor e Riso.

Em nenhuma dessas situações, porém, se enquadra a andreense Ivoneide Longuini, de 42 anos. Após trabalhar por 17 anos como babá, ela decidiu tomar conta de idosos. A inspiração veio depois de terminar o curso técnico em enfermagem (que não é necessário para o exercício da atividade). "Eu gosto de cuidar de pessoas mais frágeis e dependentes", diz ela, que começou a trabalhar na casa de dona Maria do Carmo, de 78 anos, em outubro. "Tenho uma paciente muito lúcida e culta. Gosto de assistir aos telejornais com ela e arrumá-la nas manhãs para que ela vá às aulas de pintura."

Ivoneide trabalha das 21h às 9h e dorme no local durante a semana. Separada, passa os dias com sua filha de 11 anos, que, à noite, vai para a casa do pai.

 

Salário médio da categoria é de R$ 1.000

O salário pago a cuidadores de idosos é de um salário mínimo e meio, explica Simone Garcia, coordenadora do curso da USCS (Universidade Municipal de São Caetano). "Considerando o mínimo de R$ 622, dá em torno de R$ 933."

No entanto, existe uma variação de acordo com as horas trabalhadas. Considerando que, por hora, os profissionais recebam R$ 5, e trabalhem 10 horas diárias, de segunda a sexta, eles recebem R$ 1.000, mais o vale-transporte.

No caso de Ivoneide Longuini, que trabalha 12 horas durante a noite e possui técnico em enfermagem, ela ganha R$ 1.450 mensais. A fim de garantir seus direitos, como a aposentadoria, e trabalhar formalmente, há três meses ela se tornou empreendedora individual.

Para fazer o curso no Grupo Vida, Amor e Riso, se a pessoa estiver desempregada e sem recursos, o valor pode ser pago após o recebimento do primeiro salário. Para intermediar contratação, é cobrada taxa de 100% do salário.




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