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Software livre impulsiona a 'neocontracultura'
Nelson Albuquerque
Do Diário do Grande ABC
26/07/2003 | 17:46
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Uma nova contracultura estaria surgindo? Anos atrás, alguns movimentos combateram sociedades hipócritas. Foi o tempo de “paz e amor” contra repressivos padrões sociais, e as normas e regras se tornaram mais maleáveis. Hoje, a ditadura mercadológica impõe a individualização do ser humano, os monopólios escravizam consumidores e excluem os miseráveis. É a ordem do lucro a qualquer custo.

A resposta pode vir por meio de uma comunidade virtual, unida pela idéia do direito que todos têm de evoluir em conhecimento. Não há líderes, cabelos longos ou curtos, roupas limpas ou sujas. Subversão? Talvez por negar as leis, pelo menos aquelas mantidas por interesse de grupos empresariais e que protegem o enriquecimento destes em detrimento da prosperidade de outros.

Para ser mais exato: a sociedade do software livre imagina a informática para todos. Ao contrário das empresas do setor, que faturam com a exclusividade.

A informática é uma realidade que atinge todas as pessoas, até como necessidade, e as empresas que fazem programas de computador lucram muito com isso. A mais poderosa é a norte-americana Microsoft, do multibilionário Bill Gates.

Empresas desse tipo criam os softwares e fecham o código-fonte, ou seja, ninguém consegue mexer no programa para corrigir erros ou adaptá-los à sua necessidade. Isso cria dependência por seus produtos: quem precisa trabalhar, se divertir, se comunicar por meio de computadores terá antes de pagar a elas. E tudo deverá ser feito conforme elas ditam, pois os programas são intocáveis.

“Liberdade” é o grito dos usuários e programadores de software livre. Liberdade de expressão, liberdade para obter, aperfeiçoar e sociabilizar ferramentas de uso da informática. “É nossa independência tecnológica”, diz o analista de sistemas Marco Sinhoreli, 32 anos, sete deles trabalhando com softwares livres.

Falar em software livre não é o mesmo que falar em produto grátis, e sim em programas abertos que podem ser estudados e modificados. Apesar disso, o custo é realmente uma vantagem. Enquanto um Microsoft Office (que contém programas como o Word e o Excel) custa cerca de R$ 1,3 mil, um Open Office pode ser adquirido gratuitamente na internet ou comprado por cerca de R$ 15 em bancas de jornais, e ainda pode ser aprimorado.

“Há as questões do baixo custo e produtos mais seguros, mas o principal motivo para usar software livre é mesmo o sentimento de liberdade. Além disso, existe uma preocupação social: por que dar dinheiro a uma empresa norte-americana se ele pode ficar aqui e gerar benefício para os brasileiros?”, questiona Paulino Michelazzo, secretário da ONG Quilombo Digital. A entidade dedica-se à disseminação do software livre e à inclusão digital.

Segundo Michelazzo, ganhar dinheiro com o software livre “não é pecado”. “A idéia e a socialização do capitalismo. O que não deve ser feito é fechar o código-fonte”, diz.

Nasce um novo mercado de trabalho para técnicos que podem vender seus programas e prestar serviços de manutenção ou suporte. Grandes empresas, como redes varejistas e bancos, já usam software livre. No cinema, os exemplos são filmes como Titanic e Toy Story feitos em plataformas digitais desse tipo.

Um ponto interessante dessa história é que o software nasceu livre. “Era criado nas universidades e passado de programadores para programadores”, afirma Michelazzo. Até que as empresas fecharam o código-fonte e passaram a ganhar dinheiro com isso. A luta agora é para voltar às origens.




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