"Bela como um lábio partido" (uma definiçao de Raymond Chandler), ela usa o microfone como uma extensao dos sons do corpo, arfante, se arrastando como uma felina pelo teatro. É uma mulher moderna, andrógina e sexy na medida certa, sem afetaçao fashion, sem teoremas fáceis para serem decifrados. Um dos destaques do show é sua releitura muito particular do samba "Barracao" (Luís Antonio e Odemar Magalhaes), antigo sucesso da cantora Elizeth Cardoso. Tem também alguns standards da MPB, como "O Meu Amor" (Chico Buarque), "Como uma Onda" (Nelson Motta/Lulu Santos) e "O Amor É Velho, Menina" (Tom Zé).
"Tom Zé é uma referência de toda a vida", diz a cantora de 32 anos, que vai incluir mais uma do conterrâneo no show de amanha à noite, "Chique Chique" (parceria de Tom Zé com José Miguel Wisnik). Além dessa nova cançao, ela mistura Joao Bosco com Prodigy (em O Ronco da Cuíca) e interpreta "Mentira", de Manu Chao, do Mano Negra.
Pegada - Formada em administraçao de empresas, como o conterrâneo Gilberto Gil (por sinal, o pai da cantora, o acadêmico baiano Joao Eurico Matta, também foi professor de Gil em tempos idos), Rebeca diz que seu som volta com uma pegada mais forte, com guitarras mais distorcidas. Loop B volta a fazer uma participaçao com seu "Concerto para Furadeira e Tanque de Gasolina", algo inacreditavelmente bom.
Por trás do som indefinível de Rebeca Matta está a figura do tecladista André t., seu parceiro de todas as horas. Foram os dois que começaram a alargar as fronteiras da música baiana (e brasileira, por conseguinte) com seus shows experimentais no eixo underground de Salvador. André t. (que também é integrante da banda de Carlinhos Brown) morou nos EUA durante quatro anos, estudando computaçao na Pensilvânia. Lá, formou a banda de rock progressivo Here, influenciada pelo guitarrista Robert Fripp, Frank Zappa e Brian Eno. Voltou ao Brasil em 1996 e já está com Rebeca há dois anos.
A base do show é o único disco de Rebeca, "Tantas Coisas", que reunia quartetos de cordas, canto lírico (Rebeca estuda canto), instrumentos de percussao indianos e marroquinos, timbres computadorizados, baiao com guitarra distorcida. Logo na abertura, há uma versao feita de teclados e coro de "O Mar", do grupo português Madredeus, que encantou o seu compositor, Pedro Ayres Magalhaes.
Mas é provável que Rebeca grave um novo disco, no próximo ano, por um grande selo nacional. Há alguns interessados, os mais ligados. "Vou fazer o máximo para ser ouvida pelo maior número de pessoas, mas nao vou mudar uma nota do que sou e do que faço para isso", diz Rebeca, que é de pouco papo. "Eu faço o que faço movida por uma vontade mais forte do que eu", afirma. "Tantas Coisas" tem também uma versao guitar band de "O Anjo", de Milton Nascimento, um trip-hop fascinante em "Nada Será como antes", de Lulu Santos, e apoios vocais da cantora lírica Marilda Costa em música de Tom Zé.
Tudo isso está no show, com a roupagem cool e vigorosa da banda de Rebeca. A bailarina Sandra, que fazia solo em um intervalo, nao estará lá. Mas sua performance será exibida em vídeo. A cantora participou no fim de semana de um evento que foi chamado de "rave nordestina", no Sesc Pompéia, ao lado de Otto, Cidadao Instigado, Narguilê Hidromecânico, DJ Dolores e outros.
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