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Blasted, uma peça duas vezes inédita
Alessandro Soares
Do Diário do Grande ABC
29/07/2004 | 18:49
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A peça Blasted estréia nesta sexta no Teatro Municipal de Santo André sob duas condições de ineditismo. É a primeira montagem nacional deste texto contemporâneo da dramaturga inglesa Sarah Kane (1971-1999), morta precocemente aos 28 anos. E, também, a primeira peça patrocinada com recursos da lei municipal de incentivo fiscal para projetos culturais oriundos de Santo André em vigor desde 26 de janeiro deste ano. A sessão desta sexta é às 21h, e sábado e domingo às 20h, com censura 16 anos. No sábado, haverá uma sessão às 16h com entrada franca. Os ingressos deverão ser retirados a partir das 15h.

A peça, orçada em R$ 86 mil, foi patrocinada pelo Centro Universitário Uni-A, de Santo André. A produção é da atriz andreense Joana Mattei, que estrela a peça, e de Laerte Mello, tradutor brasileiro de Sarah Kane, que também atua. A direção é de Marco Antonio Rodrigues, vencedor do Prêmio Shell de melhor diretor este ano por Otelo.

Blasted surgiu durante a Guerra da Bósnia. Sarah já tinha escrito parte do texto quando viu na TV a imagem de uma mulher pedindo socorro e resolveu pôr a guerra na peça. Começa com um casal, Ian, jornalista (Mello) e Cate (Joana), moça da periferia, em um quarto de hotel, onde ocorre um ato violento – um estupro. Em dez minutos, com uma guerra à porta e com a entrada no quarto de um soldado (Nicolas Trevijano), uma projeção do interior de Ian, o realismo implode. Como adjetivo, blasted pode ser traduzida por estragado ou detestável; como verbo, detonado.

“Sarah domina a dramaturgia e trabalha com suspense, no qual os ingleses são mestres. E é um texto incômodo, no bom sentido. Acho lamentável que ela tenha desistido de viver tão cedo. Tinha o conceito de arte como utopia, qualidade rara no teatro”, afirma Rodrigues.

A história usa violência para tratar da condição humana nos tempos atuais. “Apesar das reflexões sobre questões sociais, a peça faz um balanço da civilização ocidental e desses sistemas que existem e não suportam mais o peso no mundo. Você vai ser violentamente arrebentado por aquilo que você tenta combater. É a peça dela mais próxima das coisas brasileiras, onde crise social é uma questão forte. As outras são cifradas para o público europeu, onde as crises são de outra ordem”, diz Rodrigues.

Para Joana Mattei, é uma história de amor entre pessoas que não têm saída. “Um se apega ao outro, mas não se entendem, pois são de mundos diferentes. Acabam se agredindo, vivendo uma situação limite. Buscam uma coisa que ninguém pode mais dar a ninguém”, afirma.

A lei municipal de incentivo fiscal tem 38 projetos em análise pela comissão da Secretaria Municipal de Cultura, no valor total de R$ 2,3 milhões em renúncia fiscal. Outro aprovado é Asfaltos, do Teatro do Asfalto, formado na Escola Livre de Teatro.




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