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Lixão do Alvarenga continua poluindo
Illenia Negrin
Do Diário do Grande ABC
11/03/2007 | 22:01
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Seis anos depois do fechamento do Lixão do Alvarenga, localizado na divisa entre São Bernardo e Diadema, o poder público não mobilizou nenhum esforço para recuperar a área.

Toneladas de lixo em decomposição, agora cobertas por vegetação, continuam a produzir chorume, que é despejado in natura na represa Billings. O reservatório fica a menos de 500 metros do terreno de 40 mil m² que por três décadas funcionou como depósito de lixo orgânico, químico e industrial.

Especialistas afirmam que qualquer projeto para despoluir a represa tem de incluir, obrigatoriamente, a remediação da área do antigo lixão. Não há como livrar a Billings dos passivos ambientais sem acabar com a fábrica de contaminação do Alvarenga.

Em 2000, o Ministério Público e as prefeituras de Diadema e São Bernardo assinaram um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) para fechar e descontaminar o terreno (leia quadro ao lado). Ambas foram responsabilizadas pelos danos ambientais, já que usavam local tão próximo à represa como aterro.

Apesar do acordo firmado com o MP, nenhum dos municípios plantou sequer uma muda para reflorestar a área. Nem instalou tubulações para eliminar os gases, produto da decomposição do lixo, ou de tratamento do chorume. A justificativa é a falta de recursos.

“Pelo último orçamento a que tive acesso, a implementação de todo o sistema de remediação custaria R$ 13 milhões. Mas as prefeituras resistem em gastar tamanha quantia numa área que é particular”, explica a promotora do Meio Ambiente de São Bernardo, Rosângela Staurenghi.

O MP move, desde 2002, uma ação civil pública para que os 12 proprietários do terreno também tenham de arcar com os custos da descontaminação. Segundo a promotora, uma das saídas que vem sendo negociada é a doação do terreno às prefeituras.

Lixão verde - Hoje, quem visita o local tem a falsa impressão de que o trabalho de descontaminação começou. Nem de longe a paisagem lembra os tempos do lixão. Não existem mais as montanhas de dejetos nem o mal cheiro insuportável de outrora; o cenário é de uma área verde abandonada, com vegetação rasteira e pequenos arbustos por toda a extensão.

Tudo ali reapareceu sem qualquer interveção. A flora espontânea esconde o subsolo e os aqüíferos tomados pela contaminação. Em 20 metros de profundidade – a altura de um prédio de seis andares – é possível encontrar lixo.

“A natureza é implacável. Aos poucos, se refaz. Mas o chorume escorrendo para a Billings ninguém vê”, comenta Virgílio de Farias, ambientalista do MDV (Movimento em Defesa da Vida).

O geólogo e pesquisador do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) Ângelo José Consoni explica que o processo de remediação demora de dois a cinco anos para começar a apresentar resultados. “Depois desse período, é possível liberar a área para o acesso de pessoas. O IPT indicou a instalação de um parque no terreno”, avalia.

A descontaminação total do solo e dos lençóis freáticos levaria de 20 a 30 anos, segundo o geólogo. Ele afirma que o despejo de chorume compromete, sobretudo, a fauna aquática e os sedimentos de fundo da represa.

Cerca de 90% do terreno está dentro dos limites de São Bernardo. O secretário de Habitação e Meio Ambiente do município, Ademir Silvestre, diz que a Prefeitura vai transformar o antigo lixão em unidade de conservação ambiental. Com bosque e tudo mais. O dinheiro?

“Estamos esperando a verba da agência de desenvolvimento japonesa para dar início aos trabalhos. A remediação da área faz parte do amplo projeto de recuperação da Billings, que custará mais de 140 milhões de dólares.”

Em tempo: os recursos devem ser liberados só no ano que vem. Na melhor das hipóteses, as intervenções no terreno do Alvarenga começam em 2009. Às vésperas do 40º aniversário da fábrica de chorume.



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