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Solitários no planeta Terra?
Gabriel Dalmaso, Ivan Paulino-Lima, Claudia Lage
31/08/2009 | 07:06
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Divulgação/Nasa


A astrobiologia parece estar chegando perto da resposta. Micro-organismos terrestres que vivem em condições extremas começam a servir de modelo para saber como organismos similares poderiam viver em outros lugares do cosmo.

Além disso, é a primeira vez na história que a humanidade tem as ferramentas necessárias para uma busca criteriosa de vida no universo. A evidência concreta pode aparecer nos próximos anos. Ainda que seja representada por seres microscópicos.

Olhando para o nosso sistema solar, temos grandes candidatos para abrigar a vida. Marte, sob vários aspectos, é o corpo celeste mais semelhante à Terra. Hoje, sabe-se que, abaixo do solo marciano, há gelo de água em abundância.

Micro-organismos que se multiplicam no gelo já foram detectados na Antártida, portanto, é razoável admitir que possam igualmente habitar o gelo marciano.

O gás metano na atmosfera de Marte também sugere a presença de micro-organismos, pois, na Terra, a liberação desse gás só ocorre pela atividade biológica ou por atividade vulcânica. A baixa pressão exercida pela atmosfera rarefeita de Marte, aliada a altas concentrações de sais e de água oxigenada, permitem que a água exista sob a forma líquida, pois essas substâncias atrapalham seu congelamento, mesmo aos -56°C no planeta. No entanto, a falta de atmosfera faz com que as doses de radiação ultravioleta solar sejam altíssimas na superfície do solo marciano. Assim, quaisquer indícios de organismos viventes em Marte estarão localizados no subsolo.

Outra candidata a abrigar vida é Europa, uma das luas de Júpiter. O satélite tem uma superfície de gelo que varia de 5 a 30 quilômetros de espessura e um oceano líquido abaixo dessa camada gelada que poderia abrigar micro-organismos. Titã, uma das luas de Saturno, é outra candidata. A densa atmosfera dessa lua bloqueia a passagem dos raios ultravioleta solares, o que favorece a proteção à vida.

Enceladus, outra lua de Saturno, também entrou ao cenário da astrobiologia após uma sonda espacial ter detectado partículas e grandes jatos de vapor d'água emanando de sua atmosfera. Os gêiseres de onde emanam esses jatos sugerem a presença de água líquida abaixo da superfície. E a hipótese da existência de um oceano no interior dessa lua aumenta as esperanças de que formas de vida (microbiana, ao menos) possam existir lá.

Solo marciano na Terra

Na Terra, há micro-organismos que habitam ambientes com características extremas, como baixas ou altas temperaturas, e que, por isso, podem servir de modelo para o estudo da presença de vida em outros corpos do universo. O deserto do Atacama (Chile), por exemplo, tem micro-organismos que sobrevivem às condições extremas de baixa umidade semelhantes às do solo marciano. Paralelamente, micro-organismos resistentes ao frio têm sido procurados em gelos da Antártida, cujas condições são similares às de Europa e Enceladus.

Também uma bactéria capaz de reparar danos em seu material genético tem sido testada em experimentos que indicam que esse micro-organismo poderia suportar viagens interplanetárias por longos períodos de tempo. Além disso, testes envolvendo a capacidade dessa bactéria de obter energia a partir de uma variedade de compostos orgânicos poderão sugerir seu uso como um modelo para simulações do ambiente em Titã.

O estudo das condições de viabilidade desses micro-organismos pode ser estendido também a outros locais do sistema solar ou mesmo do universo. A procura por planetas que orbitam outras estrelas que não o Sol tem sido intensificada na última década. Ao todo, já foram descobertos mais de 340 desses corpos, sendo que 30 deles situam-se em regiões chamadas de zonas habitáveis, nas quais a temperatura e a iluminação permitem a existência de água em estado líquido, viabilizando a existência de vida como conhecemos na Terra. A partir da caracterização das atmosferas e temperaturas desses planetas, poderemos testar a resistência de vários micro-organismos a ambientes simulados sob controle, o que poderia apontar os mecanismos de obtenção de energia para os processos vitais desses seres.

Vivemos em uma época em que há grandes chances de testemunhar a detecção de vida extraterrestre. E é possível que a encontremos nos próximos anos.




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