"Aves de mau agouro". Assim o presidente Luiz Inácio Lula da Silva definiu os críticos do seu governo, durante cerimônia de assinatura do projeto de construção da ferrovia Transnordestina em Fortaleza, no Ceará. Ele reconheceu que muitas pessoas trabalham para o país dar certo, no entanto, ao mesmo tempo, existem "aqueles que não querem que as coisas dêem certo."

Lula também jogou nas costas da oposição o fato do Brasil ter desperdiçado excelente oportunidade de crescimento. Para ele, muito políticos pensam apenas de quatro em quatro anos, algo que foi classificado pelo presidente como "mediocridade". "Pela mediocridade política do Brasil, pela mediocridade de uma classe política, boa parte dela, não consegue pensar o país nem um minuto depois do seu mandato, só pensa nos seus quatro anos, pensando em uma reeleição."

Imediatismo e História – Lula, durante seu discurso na capital cearense, falou sobre imediatismo e história, duas coisas que, segundo ele, não são compatíveis. "Quem assume a presidência de um país importante como o Brasil não pode ser pequeno e pensar na próxima eleição. Não pode ser pequeno e apenas estabelecer a política do imediatismo", disse.

"A história de uma nação não se constrói numa década e, às vezes, nem em um século. Resolver as mazelas que foram feitas ao longo de séculos neste país e pagar as dívidas sociais que foram contraídas com o povo brasileiro não será resolvidos em um mandato, dois mandatos, três mandatos e em quatro mandatos. É preciso um compromisso da nação", completou o presidente.

'Fruta Predileta' – O presidente da República também lembrou que, quando pensou e se candidatar novamente, muitos falaram que o país estava falido; que o Brasil era um verdadeiro "abacaxi". "Se o Brasil está assim, por que vocês querem que eu seja candidato a presidente? Se o país vai quebrar, por que eu vou pegar esse abacaxi? Agora, como eu gosto de abacaxi, minha fruta predileta, eu vou pegar esse abacaxi e vou provar que a gente pode consertar esse abacaxi e fazer uma coisa bem digerível", disse Lula, referindo-se às últimas eleições.

Inocentes – Lula, que freqüentemente critica o chamado 'denuncismo', apoio nesta sexta-feira que as pessoas não guardem informações sigilosas que possam se tornar denúncias. No entanto, ele pediu para que se poupe os inocentes. O discurso oficial contrasta com as manobras de bastidores da administração federal, que tentou barrar a criação de CPIs (Comissões Parlamentares de Inquéritos) para apurar indícios de corrupção.

Guerra dos Poderes - Enquanto os poderes Legislativo e Judiciário travam uma 'guerra' no campo dos processos de cassação dos deputados no Conselho de Ética da Câmara, em especial o de José Dirceu (PT-SP), Lula preferiu não se ater a este fato e comentar a divergência entre o Legislativo e o Executivo, cuja qual é encarada por ele como parte da democracia.

"Por mais que você veja na imprensa briga entre o Senado e o Poder Executivo, a Câmara e o Poder Executivo. A verdade é que, na essência, o Senado e a Câmara têm votado as coisas de interesse deste país. De vez em quando, tem uma disputa política, um xinga aqui outro xinga ali, mas numa boa conversa resolve, fica tudo acertado, vota e coloca uma emenda a mais", disse o presidente.

Lula aproveitou para mandar uma mensagem de calma à população. "Quando vocês virem essas brigas, não se assustem. É melhor assim do que no tempo do regime militar, que a gente não tinha essas coisas. Isso é um aprendizado", disse o presidente.

Ferrovia- Lula assinou em Fortaleza um protocolo de intenções para a construção da Nova Transnordestina, ferrovia que ligará o município piauiense de Eliseu Martins aos portos de Pecém (CE) e Suape (PE). Com 1.860 quilômetros de extensão, sendo 905 de novas linhas, a ferrovia deve ser construída em três anos ao custo estimado de R$ 4,5 bilhões. Quando concluída, terá capacidade de transportar 30 milhões de toneladas de carga por ano, incluindo a produção agrícola (soja, biodiesel, frutas, álcool) e mineral (gipsita) da região.

Na mesma cerimônia, o presidente anunciou a liberação de R$ 350 milhões para a conclusão das obras de dois trechos do metrô de Fortaleza.