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Violência força especialização médica
Rodrigo Cipriano
Do Diário do Grande ABC
11/01/2004 | 19:25
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De janeiro a dezembro do ano passado, 1.056 pessoas baleadas ou esfaqueadas foram socorridas pelo Corpo de Bombeiros e levadas com vida para os hospitais do Grande ABC. São, em média, três atendimentos do gênero feitos pelos bombeiros por dia. Essa alta demanda por emergências da violência urbana faz com que os médicos dos pronto-socorros se especializem cada vez mais. No Grande ABC, estima-se que cerca de 30% dos socorristas que atuam nessa linha de frente sejam qualificados com o Avanced Trauma Life Suport (ATLS), ou atendimento médico para trauma avançado.

Quem faz o cálculo é o médico Homero Nepomucemo Duarte, coordenador do Grupo Técnico da Saúde do Consórcio Intermunicipal do Grande ABC. “Hoje, esse é um curso extracurricular que o médico socorrista pode fazer”, afirmou.

O médico Dario Pirolini, diretor técnico de clínica cirúrgica do Hospital das Clínicas, em São Paulo, um dos principais centros onde o ATLS é ministrado no Brasil – que é referência em São Paulo –, estima que nos 15 anos de curso, cerca de 20 mil socorristas em todo o país tenham feito a especialização.

O curso de atendimento médico para trauma avançado habilita o médico a atender baleados e esfaqueados e também acidentados de carro, vítimas de queda ou qualquer outra pessoa com traumatismo. “Ele oferece ao médico agilidade para tomar decisões rápidas e corretas ao fazer o atendimento. No caso de um baleado, a resposta do socorrista ao quadro clínico do paciente tem de ser muito rápida. Caso contrário, o paciente pode morrer”, afirma o médico Reinaldo Bel Pozzo, diretor da UTI do Hospital Público de Diadema, coordenador do resgate de ambulâncias da cidade e habilitado no ATLS.

Os casos mais graves são chamados pelos médicos de 'golden hour', ou hora de ouro. “Esse é o nome que damos ao paciente que sobrevive ao ferimento, mas pode morrer a qualquer momento. É o que ocorre com a maior parte dos baleados”, afirmou o médico Marcelo Benevides, professor de emergência médica da Faculdade de Medicina do ABC. “Se você errar na sua conduta com um paciente desse tipo, ele morre. É preciso ter muita responsabilidade e estar preparado para lidar com as eventualidades.” Nesses casos, Benevides diz que é fundamental a integração da equipe médica com os profissionais que fazem o resgate do baleado.

Hoje, a maior parte das ocorrências de vítimas de armas de fogo é atendida pelo Corpo de Bombeiros, apesar de as ambulâncias municipais também terem habilitação para fazer esse tipo de resgate. Poucos são socorridos pela polícia ou por civis. “Se a pessoa não está preparada para prestar o socorro, o estado clínico do baleado pode se agravar e as seqüelas conseqüentes desse atendimento ruim podem ser piores do que o trauma do tiro”, explicou Anderson Lima de Oliveira, tenente do 8º Grupamento do Corpo de Bombeiros, responsável pelas sete cidades da região.




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