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Comédia 'Gato por Lebre' estréia em Sao Paulo
Do Diário do Grande ABC
14/07/1999 | 15:18
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O que é mais difícil em teatro, fazer a platéia rir ou chorar? Há controvérsias. Incontestável, porém, é a necessidade de um talento muito especial para provocar gargalhadas com humor elegante e inteligente, sem apelar para a exploraçao de preconceitos ou escatologia. Elegância nunca faltou ao comediógrafo francês Georges Feydeau (1862-1921), mestre no gênero vaudeville, cujo talento o público poderá conferir na comédia Gato por Lebre, que estréia nesta quinta no Teatro Cultura Artística, na regiçao central de Sao Paulo.

O texto escrito por Feydeau aos 26 anos, Chat en Poche, foi adaptado por Jandira Martini, também responsável pela direçao do elenco integrado por dez atores. Entre eles, Francarlos Reis, Roney Fachini e Ariel Moshe, que já atuaram ao lado de Jandira em outra comédia de Feydeau, Com a Pulga atrás da Orelha, sob direçao de Gianni Ratto, grande sucesso de público há 15 anos.

Por que um comediógrafo de qualidade é pouco montado num país tao receptivo a comédias? "Justamente por sua sofisticaçao", diz Jandira. "Sao muitos personagens e a produçao sai cara". Daí o elenco ter ensaiado de graça e a montagem ter sido feita no sistema de cotas, numa aposta, sempre arriscada, é verdade, no retorno de bilheteria.

A açao de Gato por Lebre transcorre na Paris do início do século. Pacarel (Francarlos) é um próspero fabricante de açúcar dietético, o típico novo-rico, que deseja adquirir um "verniz" cultural para ser aceito socialmente. A oportunidade surge em dose dupla na figura de sua filha Julie (Maria Siqueira), que estuda música e compôs uma ópera. Pacarel decide convidar um tenor famoso para visitá-lo, na expectativa de contratá-lo e ver assim a obra de sua filha encenada na Opera de Paris, a glória máxima. E ainda arranja para a filha o casamento com Lanoix (Ariel Moshe) um noivo aristocrata. "Noivo e noiva se detestam", adianta Moshe.

Pouco depois de ter mandado o convite ao tenor, Pacarel recebe a visita de Dufausset, um jovem estudante de Direito, filho de um velho amigo da família, imediatamente confundido com o tenor. Para agravar a confusao, a presença do bonito rapaz desperta a libido da igualmente jovem Marthe, segunda mulher de Pacarel e também da fogosa Amandine (Noemi Gerbelli), casada com Landerneau (Roney Facchini). O casal está hospedado na casa de Pacarel.

Como se nao bastasse, o criado Tiburce é apaixonado pela patroa Marthe, ou seja, mais um para provocar a tradicional falsa aparência de traiçao.

Segundo Jandira, ao contrário do que costuma ocorrer, o fato de Gato por Lebre ter sido uma das primeiras peças escritas por Feydeau aumenta suas qualidades. "É um Feydeau ainda nao testado, mais espontâneo, sem as concessoes ao gosto do público que viriam mais tarde com o sucesso".

Ela destaca o humor nascido do jogo de palavras como o grande trunfo da peça, além do clássico qüiprocó. "Ele joga com o duplo sentido das palavras e a comicidade nasce da completa falta de comunicaçao entre as pessoas", diz. Assim, o falso tenor tenta esclarecer sua verdadeira identidade, mas tudo o que ele diz é ouvido e decodificado de acordo com o desejo do ouvinte. Outro trunfo da dramaturgia vem do fato de o público saber de antemao tudo o que vai ocorrer com os personagens. "Isso causa um frisson na platéia que antecipa os acontecimentos e, ao mesmo tempo, fica imaginando como eles vao conseguir desfazer a confusao", diz Francarlos.




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