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Mostra Rio Gravura vira blockbuster
Mario Gioia
Enviado ao Rio
12/10/1999 | 17:18
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O público da Mostra Rio Gravura, megaevento com 70 exposiçoes simultâneas e cerca de 5 mil trabalhos espalhados pela cidade, surpreendeu os organizadores e deve ultrapassar a marca de 250 mil visitantes.

Se esse número for atingido, será maior do que exposiçoes com grande aparato de marketing, como a de Salvador Dalí no Masp (200 mil pessoas), e perdendo honrosamente para a última Bienal de Sao Paulo (400 mil) e para Monet, no Museu Nacional de Belas Artes do Rio (432 mil). Por isso, grande parte das exposiçoes foi prorrogada.

Até o início do mês, 168 mil pessoas haviam visitado alguma das 50 instituiçoes que abrigam o evento. "A adesao do público superou nossas previsoes. A freqüência também tem aumentado, graças à propaganda boca a boca", diz o curador Rubem Grilo, 52 anos.

Das mostras mais representativas, se encerram no próximo dia 17 as sediadas na Casa França-Brasil e no Espaço Cultural dos Correios, no mesmo quarteirao do centro carioca.

Nos três andares dos Correios podem ser vistas salas especiais de grandes nomes da gravura brasileira, como Oswaldo Goeldi, Lasar Segall, Lívio Abramo e Axl Leskoschek. As maiores coleçoes particulares da linguagem no Brasil, dos casais Mindlin e Kornis, reúnem, entre outros, o quinteto feminino decisivo na arte nacional - Fayga Ostrower, Anna Letycia, Maria Bonomi, Regina Katz e Anna Bella Geiger.

Mas a mais rara atraçao é o conjunto do mexicano José Guadalupe Posada (1853-1913), exímio cronista de um México em ebuliçao, pré-revolucionário, de um cotidiano que mistura drama e comédia, exibido principalmente nas gravuras de calaveras e sobre o Dia dos Mortos.

Na Casa França-Brasil, estao reunidas gravaçoes de Marc Chagall, André Derain e Joan Miró para livros; ilustraçoes satíricas de Honoré Daumier para jornais; e 26 monotipias do nipobrasileiro Flávio Shiró.

Para o álbum Poémes, já em Paris, Chagall remontou ao seu passado russo na aldeia de Vistebesk, em gravuras repletas de folclore judaico e fantástico. "No cruzar dos caminhos/É mais curto o cantar do rouxinol/Onde estou?", escreve ele.

Acervo próprio - Grilo ressalta a riqueza de um acervo pouco visto e o custo baixo do evento, já que 70% das obras veio de instituiçoes cariocas.

O espaço com trabalhos próprios mais valiosos é o Museu Nacional de Belas Artes, aberto até o dia 31 com quatro mostras: Albrecht Dürer - O Apogeu do Renascimento Alemao, Gravura Histórica Européia, Gravura Moderna Brasileira e Fayga Ostrower.

As obras do renascentista alemao vieram com Dom Joao VI em 1808, e mostram um artista que tirou da gravura o rótulo de arte menor e inovou no tratamento de temas cotidianos e na vendagem de trabalhos, já que tornou a sua assinatura uma marca comercial.

O painel de artistas europeus também impressiona, com representantes tao importantes e variados como Andrea Mantegna, William Turner, Théodore Géricault, Henri Matisse e Piet Mondrian.

Grilo organizou o acervo dos brasileiros em três eixos: formaçao e desdobramento; universo da figuraçao e do fantástico; e abstraçao. O corte serve como um mosaico da arte nacional, que, junto com a sala especial de Fayga, exibe a linguagem onde os brasileiros produziram uma das tendências mais fortes e reconhecidas internacionalmente - que, felizmente, pôde ser vista agora.




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