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Mulher assume desafio à frente de indústria
Fabiana Cotrim
Do Diário do Grande ABC
06/09/2003 | 19:37
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Em época de crise econômica, administrar uma empresa não é tarefa fácil para qualquer executivo. Se o administrador for uma mulher, a situação pode se tornar um desafio. Juracy Monteiro aceitou a tarefa e há cerca de quatro meses é a diretora geral da Pierre Alexander, indústria de cosmético com unidade fabril em Diadema.

O fato de ser mulher, para ela, não é um impedimento e nem um fator de cobrança a mais. O cargo que ocupa pela primeira é a parte mais difícil da missão. Por outro lado, o setor de vendas diretas, ou porta-a-porta, é um dos poucos que estão em expansão no país neste ano.

DIÁRIO – Como é para uma mulher administrar uma empresa de cosméticos? Como você chegou até aqui?
JURACY MONTEIRO – Eu trabalhei minha vida toda na área financeira, executiva financeira de empresas grandes. Eu recebi um convite para vir conversar com a empresa sobre a área financeira. Eles (sócios e diretores) gostaram de mim, a gente foi se conhecendo melhor, fui até Porto Alegre conhecer todos os acionistas e eles decidiram me oferecer o cargo de diretoria geral para eu tocar a empresa. Isso para mim foi um grande desafio, era um projeto profissional que eu não esperava que fosse acontecer aos 41 anos, mas aconteceu e eu tinha outras propostas em andamento, estava em transição entre outras empresas, saí da Aché Laboratório e estava indo para uma multinacional quando fui convidada para vir para cá. Estou achando maravilhoso trabalhar em uma empresa de média a grande, que seja uma empresa onde você tem o relacionamento mais estreito com os acionistas, isso é muito gostoso.

DIÁRIO – Qual é o desafio para você, como mulher? A cobrança é maior?
JURACY –Eu não acho que a cobrança é maior para uma mulher. Eu acho que todo executivo que entra em uma empresa, nos primeiros dois anos a cobrança sempre é grande, independente do sexo. Meu desafio vem por ser a minha primeira experiência na diretoria geral, esse é o meu desafio, mas eu posso dizer que eu venho cumprindo bem; a empresa vem tendo resultado operacional positivo desde que eu entrei, e a gente já conseguiu atingir alguns objetivos, que eram para o final do ano.

DIÁRIO – A mulher tem mais sensibilidade para o setor de cosmético do que o homem?
JURACY –Eu acho que a mulher tem como diferença uma percepção maior do consumo. Por exemplo: nós somos consumidoras no primeiro estágio e nós somos consumidoras para a família. A mulher tem todo o conceito família que é um conceito muito forte na venda direta. Na venda direta tem ajudar a criança, o pai, o avô, o tio, a irmã, o filho, esse é o conceito de venda direta, a mulher tem mais sensibilidade.

DIÁRIO – A Pierre Alexander só trabalha atualmente com vendas diretas. Vai continuar assim, ou a gente vai olhar alguma loja da marca nos próximos meses ou anos?
JURACY –Esse é um assunto que eu posso dizer que não é 100% definido, mas está dependendo de todo nosso planejamento estratégico em reuniões que estão acontecendo agora em setembro. Qual a idéia? A idéia é revisitar todos os conceitos. Porque venda direta é o carro-chefe, é o negócio, é o business da empresa hoje. Eu diria que a empresa poderá vir a estudar sim, talvez em uma determinada região trabalhar em sistema de franquia ou loja.

DIÁRIO – O setor de vendas diretas tem crescido todo ano. Neste, mesmo com a crise, haverá um desempenho melhor do que o de 2002? A Pierre Alexander também crescerá?
JURACY – Estamos crescendo acima do setor de venda direta. O primeiro semestre nós crescemos em média a 3% acima do que o setor cresceu. O setor cresceu em média, em volume em torno de 17%, a Pierre cresceu 20%. Em termos de valor nós estamos falando que a Pierre cresceu 27% e o setor cresceu 24%.

DIÁRIO – Isso você fala em termos de atuação no Brasil todo?
JURACY – Brasil todo. Nosso forte é o Sul do país onde a empresa nasceu, e vinculado a questão dos acionistas serem gaúchos, nós temos em torno de 35% do nosso faturamento no Sul do país.

DIÁRIO – E aqui no Grande ABC, onde está o parque fabril da empresa?
JURACY – Nós estamos instalados aqui e temos muito mercado a explorar em São Paulo. São Paulo para nós é um plano bastante importante no planejamento estratégico. Nós pretendemos ter atuação mais forte em São Paulo, onde nossos concorrentes estão mais presentes. Posso dizer que nossos concorrentes tem hoje 70% do faturamento deles no Estado de São Paulo.

DIÁRIO – E a Pierre hoje em São Paulo?
JURACY – A Pierre tem a presença ainda bastante modesta. Nós estamos desenvolvendo o Estado de São Paulo, estamos investindo não só em pessoas como em projetos que vão acontecer ainda nos próximos 12 meses.

DIÁRIO – Há cerca de um ano apareceu um boato de que vocês estariam deixando o Grande ABC. Não aconteceu.
JURACY – Nós temos planos de expandir. Estar mais bem localizado no Brasil, talvez ter mais um centro de distribuição que é o interesse natural quando uma empresa cresce, mas não de deixar de ter nossa participação aqui no Grande ABC.

DIÁRIO – Quais as vantagens da região?
JURACY – A localização é boa. Eu acho que São Paulo é uma região central, aqui, na verdade, logisticamente é interessante para o entendimento da região Sudeste e toda região Sul.

DIÁRIO – A empresa tem muito consumo no Norte e Nordeste? O produto é o mesmo?
JURACY – Temos. O produto é o mesmo e preço é o mesmo. No Norte e Nordeste a gente vende muito mais perfumaria do que se vende, por exemplo, no Sudeste ou no Sul. No Sudeste e no Sul se vende mais maquiagem, linhas de tratamento e de uso diário. No uso diário a gente vende bem no Brasil inteiro.

DIÁRIO – Quem é o público de vocês hoje?
JURACY – É um pouco da família. Estamos atendendo a Classe C e atendemos um pouquinho da classe D+, que a gente chama que é o topo da classe, e um pouco da classe B- que é o finalzinho da classe B. O forte é a classe C.

DIÁRIO – Tem intenção de mudar um pouco isso de elitizar um pouco mais ou é o grande mercado hoje no Brasil?
JURACY – A gente sempre tem a intenção de estar trabalhando na classe C, cada vez oferecendo produtos de mais qualidade, mas sempre com um preço competitivo

DIÁRIO – Quantos vendedores(as) vocês têm hoje?
JURACY – Em cadastro mais de 200 mil, ativas a gente está em torno de 60 mil.

DIÁRIO – Quanto uma vendedora tira por ciclo, em média?
JURACY – Nós temos vendedoras na Pierre, com 10, 15 anos. E essa revendedora chega a vender em um mês de R$ 4 mil a R$ 5 mil. Ela tem em torno de 30% dessa venda. Ela pode tirar R$ 800 reais, R$ 1 mil reais, quanto mais ela vender mais ela ganha. Não é difícil. O preço é bom, o produto é bom e assim nós temos uma série de incentivos no campo que ajudam a revendedora a fazer o programa de vendas, está tendo sempre um lançamento, sempre um produto novo.

DIÁRIO – Qual é o público que mais consome hoje?
JURACY – Sempre feminino. O homem ainda é, digamos assim, talvez resistente. Por causa da cultura a mulher acaba comprando para ele, mas ele já compra alguma coisa. O homem já está acostumado a comprar seu perfume o seu desodorante e sua loção de barba.

DIÁRIO – Mas hoje vende mais o produto masculino?
JURACY – A gente hoje já tem uma participação do público masculino bem maior do que a gente tinha no ano passado.

DIÁRIO – Você sabe dizer quanto cresceu? Sabe dizer quanto representa a linha feminina de vocês?
JURACY – Eu não tenho esse número. Nós dizemos que o masculino hoje deve estar em torno de uns 15%. Na verdade o público acaba sendo até o feminino para apresentar o masculino.

DIÁRIO – E o infantil?
JURACY – Nós temos um projeto que já está no grid de lançamentos de 2004 que é a linha infantil, que está sendo desenhada, não tenho nada para te adiantar, mas ela vem para atender o conceito de família.




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