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Montagem carioca leva 'A Inquisiçao de Maria' aos palcos
Do Diário do Grande ABC
07/07/1999 | 15:12
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A atuaçao do Tribunal do Santo Ofício no Brasil, do século 16 ao 18, interessa aos historiadores há alguns anos, mas ainda nao havia chegado à dramaturgia, com exceçao da peça O Santo Inquérito, sucesso de Dias Gomes, nos anos 70. O tema volta ao palco no monólogo A Inquisiçao de Maria que estréia nesta quinta, no Rio, no Espaço II do Teatro Villa-Lobos. O texto e a direçao sao de Alberto Magno. Zaira Zambelli se divide em seis personagens.

Magno é estudioso do assunto. Filho de Jece Valadao e sobrinho de Nélson Rodrigues, ele estréia como autor, mas nao é um iniciante. Seu interesse pela Inquisiçao surgiu quando rodava a Europa dirigindo um documentário sobre as apariçoes de Nossa Senhora. Na Torre do Tombo, em Lisboa, que guarda os documentos sobre o Tribunal do Santo Ofício na Península Ibérica, encontrou processos brasileiros em que, como na Europa, o réu quase sempre era condenado, sem necessidade de provas.

De volta ao Brasil, juntou histórias diferentes, todas trágicas. Se o acusado escapava da fogueira, perdia todos os bens, sofria mutilaçoes e era obrigado a usar a túnica do julgamento pelo resto da vida.

A linha mestra do monólogo, é o processo contra Maria da Encarnaçao, moça que realmente viveu no Rio e, aos 20 anos, foi presa sob acusaçao de duvidar da pureza da Virgem Maria e curar doentes. Ela nao foi queimada, mas na peça isso acontece, por ter sido o destino da maioria das mulheres que sofreram o mesmo processo. Para a atriz Zaira Zambelli, que vive a Maria da Encarnaçao e mais cinco personagens (acusadores, testemunhas e o inquisidor), a peça mostra a tentativa da Igreja de banir o poder feminino e a perseguiçao religiosa, muitas vezes motivada também pela ganância, já que o Tribunal confiscava para si os bens do acusado.

"O principal alvo eram os cristaos novos (judeus convertidos), mas os inquisidores tinham verdadeiro horror às mulheres", explica ela. "Minha dificuldade é controlar a emoçao no tom certo dos vários personagens, pois, se num momento eu vivo a fragilidade de Maria, logo em seguida apareço canalha, como o inquisidor", diz. "A peça tenta recuperar esse poder feminino, banido das religioes pelo Cristianismo", completa Magno. Assim, o nome da protagonista muda para Maria Madalena, numa alusao à santa contemporânea de Jesus. "Mas nao se explora a religiosidade e sim a perseguiçao religiosa e à mulher, considerada próxima ao demônio pelo Tribunal do Santo Ofício", esclarece a atriz.

A peça entra em cartaz quando chegam às livrarias obras sobre esse item pouco conhecido da história do Brasil. Os documentos começam a ser estudados só agora, mas já se sabe que milhares de pessoas sofreram processos. O tema impressionou o dramaturgo. "Houve casos em que famílias inteiras foram condenadas e mortas", conta ele. "É essa história que começamos a contar".




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