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Da família, seu eterno visitante, e mestre do 'camp'
08/02/2019 | 08:10
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Bem próximo do conceito de kitsch (lixo) nas artes, o estilo camp pode ser definido como uma grande atração para algo de mau gosto ou irônico. Se o primeiro diz respeito a objetos de valor barato, dos gostos populares e do acúmulo da falta de sofisticação, o camp é mais impalpável, expresso nas artes performáticas, na música, na dança, e também no teatro de Edward Albee.

O diretor Guilherme Weber, que estreia Peça do Casamento, lembra que na peça Quem Tem Medo de Virgínia Woolf?, clássico do dramaturgo norte-americano, há um movimento que desloca termos e expressões para recombiná-los na dramaturgia, no melhor estilo camp. "O título da peça já é uma evolução da cantiga presente em contos infantis, com a presença do Lobo Mau. Na peça, ela é cantada pela casal quase de forma aleatória, mas dessa vez com o nome de Virgínia Woolf", lembra.

O filme estrelado por Elizabeth Taylor também dialoga com outra pérola do cinema. Em A Filha de Satanás (Beyond the Forest), uma Bette Davis entediada desce as escadas, olha para a sala da casa e diz: "What a Dump! (Que l ixão!)". "Albee escreve a mesma fala para Martha na peça, que também está no filme." Weber também não perdeu a oportunidade. "Decidi fazer um terceiro deslocamento para a personagem de Peça do Casamento." Ele acrescenta que Albee foi mestre em construir figuras femininas complexas e que não cabiam em si mesmas. "Dizem que suas personagens mulheres são quase como bichas tristes."

Nesse caminho, a vida e a sexualidade de Albee nunca ficaram de fora de suas obras. Criando situações inusitadas, o autor expressou o eterno desconforto de seu desejo desviante no ambiente familiar. Em Zoo Story, o protagonista da peça destilava o ódio pela família. Em Três Mulheres Altas, escrita após a morte da mãe adotiva de Albee, o autor retrata a relação de uma das mulheres com o filho gay.

Em Peça do Casamento, esse olhar é mais central ao colocar os dramas de um casal sob o ponto de vista de um menino gay. "É com esse ângulo que o texto ganha a chance de jogar com a paródia e a paráfrase, acentuando o humor", defende o diretor.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.




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