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Polícia acusa imprensa e CPI pela morte de investigador
Do Diário do Grande ABC
23/11/1999 | 15:10
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O sepultamento do investigador Luiz Roberto Lopes foi marcado nesta terça-feira, em Campinas, por um clima de tristeza e revolta entre os policiais civis da cidade. Para eles, Lopes foi induzido ao suicídio pelos métodos "truculentos" e "arbitrários" adotados pela CPI do Narcotráfico. Para eles, a imprensa também o condenou antes mesmo de seu julgamento. O investigador deveria depor na próxima sexta-feira, em Brasília, mas foi encontrado morto, segunda-feira, com um tiro no peito, no banheiro da Delegacia de Investigaçoes Sobre Entorpecentes (Dise), onde trabalhava.

Lopes foi citado pelo ladrao de cargas Gilmar Siqueira Leite como um dos policiais suspeitos de participar do narcotráfico. Segundo o delegado titular da Dise, Miguel Voigt Júnior, o investigador matou-se com um tiro no peito por considerar injusta a acusaçao. Peritos do Instituto de Criminalística (IC) de Sao Paulo realizaram a necrópsia e o exame residuográfico no corpo do investigador para esclarecer se Lopes cometeu mesmo suicídio.

"Ele (Lopes) foi condenado à morte sem julgamento", disparou o delegado seccional da Polícia Civil em Campinas, Josué Ferreira Ribeiro. Para o policial, a CPI está cometendo abuso de poder. "Temos uma constituiçao que está acima de qualquer poder e de qualquer pessoa", afirmou. "A CPI tem um compromisso e deveria levar isso a sério", completou.

Ribeiro disse que nao é contra as investigaçoes, mas discorda dos métodos adotados. "Nao precisava chegar à morte do investigador".

Segundo ele, Lopes "era um dos melhores policiais da corporaçao" e nao merecia ter seu nome sob suspeita. "Os métodos usados pela CPI desobedecem todos os procedimentos penais", afirmou.

"Nosso policial (Lopes) está morto e Willian Sozza saiu da CPI andando", disse o delegado da Dise, Miguel Voigt Júnior, referindo-se ao empresário foragido, que é apontado como líder do crime organizado na regiao. "Nao estamos dizendo que ninguém da polícia tem relaçao com o narcotráfico, mas queremos uma apuraçao correta", afirmou.

"A maneira como a CPI conduz os interrogatórios parece um tribunal de exceçao", disse o delegado do 10 distrito policial, Hamilton Caviolla. "Os depoimentos sao conduzidos de forma totalmente arbitrária e sem direito a defesa", completou o delegado do 4 distrito policial, Messias Pimentel de Camargo Júnior. "A CPI cometeu os mesmos exageros da Inquisiçao", afirmou o delegado do 8 distrito policial, Talmir Russo Boavista.

Para os policiais que acompanharam o sepultamento, Siqueira Leite estaria se aproveitando da CPI para vingar-se. Lopes foi o responsável, há cinco anos, pela prisao do ladrao de cargas, que foi condenado e estava cumprindo pena no presídio de Piracicaba. "Todos que participaram da prisao do Gilmar agora estao sendo acusados por ele", observa o chefe dos investigadores do 6 distrito policial, Roberto Campolina.

"Para a CPI, Gilmar é o juiz e os policiais sao os ladroes", afirmou o filho do policial morto, Luiz Lopes. A família do investigador nao tem dúvidas de que ele se matou por nao suportar a humilhaçao. "Ele estava muito deprimido", disse sua mulher, Angela Lopes. Ela confirmou ter ligado para o delegado da Dise na manha de segunda-feira, alertando sobre o estado psicológico do marido. Pouco depois, segundo a polícia, ele se matou.




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