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'Irmão de Celso foi instruído para fazer denúncias', diz Sérgio
Maria Teresa Orlandi
Do Diário OnLine
16/07/2002 | 20:08
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 Sérgio Gomes deixa Câmara sem falar com imprensa/Foto: Andréa Iseki/DGABCO empresário Sérgio Gomes da Silva, o Sombra, adotou o ataque para se defender da denúncia de envolvimento no suposto esquema de extorsão contra empresários do setor de transportes de Santo André. Em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Câmara Municipal, Silva afirmou que um dos principais autores da denúncia, o médico João Francisco Daniel, irmão do prefeito assassinado Celso Daniel, foi ‘instruído’ a fazê-la. “Desqualifico as declarações de João Francisco Daniel, que nunca teve uma convivência política em Santo André, não era próximo de Celso Daniel e não tem a menor possibilidade de fazer qualquer afirmação deste tipo, a não ser que ele tenha sido instruído ou treinado. Ele não tem a menor idéia do que está falando”, afirmou.

Silva, que foi filiado ao PT, foi denunciado pelo Ministério Público por formação de quadrilha como integrante do suposto esquema de cobrança de propina que financiaria campanhas do partido. Ele era amigo pessoal de Celso Daniel – trabalhou como segurança e assessor do ex-prefeito – e dirigia a Pajero quando ele foi seqüestrado, na noite de 18 de janeiro. Também é sócio de Ronan Maria Pinto – apontado como um dos mentores do esquema – em uma empresa de ônibus em Fortaleza e sócio majoritário da SóDiesel. Ele foi o único dos depoentes que se recusou a jurar falar a verdade aos vereadores. O advogado Roberto Podval alegou que por não depor como réu, mas apenas como testemunha, seu cliente não era obrigado a fazer o juramento, que o sujeitaria às penalidades previstas no artigo 342 do Código Penal.

Os vereadores não perguntaram por quem João Francisco teria sido instruído a fazer a denúncia, mas o empresário insinuou que seria pela família Gabrilli, proprietária da Viação São José e ex-sócia do deputado federal Duílio Pisaneschi (PDT), inimigo político de Celso Daniel e também denunciante da suposta cobrança de propina. “É antiga a relação incestuosa entre o Duílio e os Gabrilli, que têm ligação com o João Francisco”, disse. Ele confirmou que o médico intercedeu ‘uma ou duas vezes’ junto ao ex-prefeito a favor dos Gabrilli. O secretário afastado de Serviços Municipais, Klinger Luiz de Oliveira Sousa, a ex-mulher de Celso, Mirian Belchior, e o ex-secretário de Governo do município, Gilberto Carvalho também o acusaram de tráfico de influência e de atuar como lobista em favor de Rosângela Gabrilli.

O ex-segurança afirmou ainda que teve um jantar com Pisaneschi em 2000, após ter sido ‘insistentemente procurado’ por ele. De acordo com Silva, o deputado fez queixas e uma série de pedidos envolvendo a Viação São José e imóveis dele na cidade. “Eu dizia que apesar de ser amigo do Celso, não interferia nos assuntos administrativos”, relatou. Negou que Pisaneschi tenha falado sobre pagamento de propina e se recusou a responder se houve qualquer tipo de negociação para que o deputado não se candidatasse à Prefeitura de Santo André. Pisaneschi não foi encontrado pela reportagem para confirmar as informações.

O empresário admitiu que atuou na tesouraria do PT em 1996 e que ajudou a arrecadar recursos para financiar campanhas do partido, mas disse que não foi tesoureiro e que nunca recolheu dinheiro junto a empresas de ônibus. Ele atribuiu a ‘interesses escusos’ a acusação de que ele cobrava propina em nome de Klilnger, sob a pena de retaliações da administração municipal. “Os empresários têm o interesse de encobrir verdades em relação à saída de dinheiro de suas empresas”, acusou. Ele disse que nunca participou de reuniões com o setor de transportes e que não conhece Sebastião Passarelli, sócio da Viação São José e Expresso Guarará, que afirmou à CPI ter entregue dinheiro em espécie pessoalmente a ele, na presença de Ronan.

Silva insistiu que os vereadores examinem um relatório sobre uma auditoria realizada na Viação São José, que, de acordo com ele, pode mostrar irregularidades nas contas da empresa. “Eu acho que essa empresa (Viação São José) admite que tem um caixa dois”.

Sérgio Gomes deixou a Câmara sem falar com a imprensa. O depoimento foi o último da primeira fase de investigações da CPI. Segundo o relator, vereador Donizete Pereira (PV), a comissão levará pelo menos uma semana para analisar os depoimentos e decidir o rumo das investigações. "Se necessário, vamos pedir acareações ou novos depoimentos", disse.




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