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Seca deve manter exportaçao reduzida em 2000
Do Diário do Grande ABC
14/06/2000 | 15:26
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Dificilmente o Brasil terá condiçoes de elevar suas exportaçoes de açúcar na safra 2000/01, mesmo diante da recuperaçao das cotaçoes internacionais de açúcar. Apenas no mês de junho, o contrato para julho de açúcar demerara, negociado em Nova York, subiu 18,5%, passando de 7,55 cents por libra para 8,95 cents por libra (maior valor registrado hoje) amparado no sentimento de que o Brasil reduzirá drasticamente suas exportaçoes.

A expectativa inicial era de que o Brasil exportasse na safra que está começando agora cerca de 5 milhoes de toneladas, uma reduçao de mais de 50% em relaçao à safra anterior. Agora, o agravamento da seca no último mês na regiao Centro-Sul está gerando especulaçoes que o excedente exportável nao atingirá nem os 5 milhoes de toneladas. "Apenas a seca de 1968, que provocou uma quebra de 40% da safra, foi pior que a atual", conta Carmen Ruette de Oliveira Machado, diretora executiva das Usinas V.O - Catanduva.

Segundo ela, em algumas regioes do Estado de Sao Paulo, como a de Catanduva e a de Piracicaba, a perda na produçao de cana-de-açúcar deverá atingir os 30%. No total, a expectativa é de que a quebra na safra de cana da regiao Centro-sul supere os 20%. "Na cana que já começou a ser processada, o rendimento está muito baixo devido à queda no teor de sacarose provocado pela seca", disse ela.

Para a diretora-executiva da V.O-Catanduva, mesmo que os preços do açúcar explodam no curto-prazo, nao haverá uma migraçao do açúcar que será vendido no mercado interno para o mercado externo. Nem uma migraçao de cana para a produçao de álcool para a produçao de açúcar com o objetivo de exportar. Isto porque tanto os preços do açúcar no mercado interno como os preços do álcool tambem estao fortalecidos e praticamente equivalentes aos preços internacionais. "O setor nao vive uma situaçao de preços bons em todas as pontas desde 1995", disse ela.

Das cerca de 5 milhoes de toneladas que devem ser exportadas nesta safra, o mercado acredita que um volume entre 2 a 2,5 milhoes de toneladas já estejam contratadas. A expectativa agora, é qual será a velocidade com que este açúcar entrará no mercado internacional.

Para Júlio Maria Borges, analista da Job Consultoria, à medida que o açúcar brasileiro retornar ao mercado internacional as cotaçoes devem sofrer uma correçao. "Os preços internacionais começaram a se recuperar a partir de abril quando começaram a surgir os primeiros sinais de quebra na safra brasileira. Antes de abril, os preços do açúcar no mercado doméstico estavam mais atraentes para o produtor. Agora, os preços estao praticamente equilibrados", disse.

Porém, Borges acredita que ainda é cedo para afirmar se o Brasil irá ou nao desviar cana da produçao de álcool para açúcar destinado ao mercado externo. "Atualmente os preços estao equilibrados mas o tamanho real da safra brasileira apenas será melhor configurado a partir de agosto", acredita.

Analistas do mercado acreditam, contudo, que os preços do açúcar no mercado internacional será melhor definido após o dia 31 de junho, quando o contrato de julho da bolsa de futuros de Nova York estiver vencendo. O preço de vencimento de julho será uma base para o mercado sentir o tamanho da escassez do açúcar no mercado mundial. Atualmente, a expectativa é de que haverá uma maior escassez do produto em outubro do que em julho. A estimativa é feita tendo em vista os atuais preços praticados na bolsa de Nova York. O contrato para outubro está em 8,80 cents ante 8,72 cents do contrato para julho.

Alguns analistas acreditam que este cenário foi construído a partir do sentimento de que haverá um maior volume de exportaçao brasileira a partir de julho. Nas contas de um corretor, cerca de 3 milhoes de toneladas de açúcar brasileiro deverao ser colocados no mercado internacional em três meses.

A pergunta que está sendo feita é se existe demanda internacional para absorver todo este açúcar no vencimento de julho. No vencimento do contrato de maio em Nova York, nao houve demanda pelo açúcar físico que estava sendo entregue e cerca de 300 mil toneladas foram "roladas" para julho. Em julho, a Rússia - o maior importador de açúcar do mundo - está fora do mercado devido a vigência do imposto sazonal de importaçao, que chega até a 45%.

A esperança é de que a China e outros países do Oriente Médio sejam importadores expressivos e acabem por absorver o produto. "Desde o Sugar Dinner, no mês passado, em Nova York, os traders internacionais estao comentando problemas com a safra chinesa e sobre a necessidade de importaçao", comenta Carmen Ruette, da V.O. Se este cenário se confirmar, em outubro, a disponibilidade do açúcar no mercado internacional pode ser menor e os preços deverao manter-se elevados.




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