A indústria do entretenimento ao vivo, sem a mediaçao das ondas eletromagnéticas, definitivamente se instalou em Sao Paulo. O Beijo da Mulher Aranha, produçao orçada em US$ 1 milhao, reúne dois astros muito bem estabelecidos no show business nacional e um ator em ascensao. Claudia Raia e Miguel Falabella, ao lado de Tuca Andrada, encabeçam o elenco do musical importado da Broadway. Cenários, figurinos, coreografias e arranjos musicais sao iguais aos originais norte-americanos. A direçao da montagem brasileira cabe ao global Wolf Maya.

O Beijo da Mulher Aranha estréia durante a primeira quinzena de outubro. O Teatro Jardel Filho passa por reforma especialmente para receber o musical. O maquinário usado na mudança de cenários pesa 1 tonelada. Há 700 mudanças de luz - o equipamento é importado - e 120 figurinos.

O espetáculo é baseado no livro homônimo do argentino Manuel Puig, lançado em 1976, cuja adaptaçao cinematográfica, dirigida por Hector Babenco, em 1985, deu o Oscar a William Hurt. A obra narra o convívio do revolucionário marxista Valentim com o homossexual Molina numa prisao sul-americana. A Broadway fez a sua versao em 1992, dois anos após a morte de Puig.

A mulher aranha do título é Aurora, a atriz favorita de Molina, que nela se apega em seus delírios e fantasias como suporte para a vida de violência física e psicológica da prisao. Claudia interpreta Aurora, enquanto Falabella vive Molina, e Andrada, Valentim.

Para Maya, "a sofisticaçao é o grande barato do musical, embora os atores sejam a alma do espetáculo". Sobre a obrigaçao de a montagem brasileira ser igual à original, o diretor diz que "o formato é tao bem articulado que custa a acreditar que dá para melhorar".

A preocupaçao de Falabella é "nao fazer um homossexual afetado, doido, estereotipado, para nao desumanizar o personagem. Caso contrário, o público nao acreditaria na relaçao entre Molina e Valentim". Os dois personagens conduzem a açao dramática de O Beijo da Mulher Aranha.

Andrada destaca a transformaçao de Valentim durante o espetáculo. "É um personagem duro, amargo. Ele muda por causa de Molina, que lhe devolve a ternura", diz. Claudia define Aurora, interpretada no cinema por Sonia Braga, como "sensual, misteriosa, lúdica, glamourosa".

Por causa da infra-estrutura técnica necessária para o musical, ele nao deve sair de Sao Paulo. Falabella reconhece que o espetáculo é puro entretenimento, sem pretençoes reflexivas. "A intençao é fazer com que as pessoas relaxem", afirma.