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James Bond acidental
19/06/2009 | 07:00
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Clive Owen acha graça do que lhe diz o repórter - "Trama Internacional" é a sua vingança. Contra o quê, pergunta? Há alguns anos, o ator inglês esteve cotado para o papel de James Bond, que, afinal, ficou com seu compatriota Daniel Craig. Ele agora banca o agente secreto, enfrentando um banco internacional - um conglomerado financeiro que lava dinheiro e financia o terrorismo, além de recorrer a métodos brutais para limpezas de arquivo e intimidações de concorrentes. "Oh, that!", Exclama o ator. Sim, é isso, mas ele se apressa a acrescentar que o thriller do alemão Tom Tykwer é mais político do que as aventuras de 007.

"Trama Internacional" não foi bem recebido em Berlim, onde fez a abertura do festival, em fevereiro. Muitos críticos reclamaram do diretor do evento, Dieter Kosslick, dizendo que, ao promover o filme que um alemão (Tykwer) fizera em Hollywood, ele estava avalizando um world cinema que mais parece espelho da internacionalização do que um reflexo crítico do que se passa hoje no mundo.

No passado, grandes diretores alemães, como Friedrich W. Murnau ("Aurora") e Fritz Lang ("Fúria"), foram a Hollywood apontar tendências. Agora, de Wolfgang Petersen ("Força Aérea Um") e Roland Emmerich ("Independence Day") a Tykwer, vão para seguir tendências, e nisso vai uma diferença enorme. Owen acha que é injustiça com o diretor de "Trama Internacional". "Não se trata apenas de mais um filme de ação. Tom (Tykwer) lança questões importantes."

No filme, Owen faz um agente da Interpol disposto a provar que os bancos são os inimigos da democracia - e que, ao estimular dívidas, eles controlam não apenas os indivíduos, mas os países. O ator explica o que lhe pareceu atraente no roteiro. "Foi como se eu tivesse feito uma viagem de volta ao tempo dos thrillers paranoicos dos anos 1970."

CRISE - O lado James Bond do personagem lhe parece acidental. "Não tenho licença para matar e, o tempo todo, esbarro nos aspectos legais que entravam as investigações. Também não sou sexy como ele. Não consigo levar para a cama nem a personagem de Naomi (Watts), mas, enfim, ela é minha superior e 007 também não avança o sinal com M (Judi Dench)."

O fato de o filme chegar aos cinemas no bojo de uma crise internacional que atingiu os bancos é mera coincidência. "Pode dar atualidade e ser motivo de especulação na abertura da Berlinale, mas há três anos esse roteiro vinha sendo trabalhado e não sofreu nenhuma modificação depois dos acontecimentos no fim do ano, até porque já estava filmado e montado. Mas é evidente que algumas coisas que discutimos estão na ordem do dia. Os bancos estão usando nosso dinheiro apropriadamente? O poder econômico comanda o político? Existe transparência no sistema financeiro?"

TIROTEIO - A grande cena é a do tiroteio no Museu Guggenheim, em Nova York. "Foi a mais trabalhosa da minha carreira. Meses antes, Tom (Tykwer) a tinha pronta na cabeça. Estávamos conversando e ele me mostrou como ia filmar. Estava tudo planejado no storyboard (descrição das cenas em desenhos) e, como tal, foi feito, mas a execução de Tom foi brilhante. Não se trata de uma mera sinfonia de violência. Para mim, não é mais importante do que o diálogo."

Seu trabalho, Owen explica, é tornar o personagem convincente, esteja ele falando ou disparando o revólver. "No caso do tiroteio, fica claro que não sou um herói de ação como os outros. Espero ter passado a sensação de terror que se apossa de mim."

Da mesma forma, a ligação com Naomi não visa a tensão erótica. "Isso aqui não é ‘Closer' ("Perto Demais"). Existe atração, mas é uma relação madura."

Owen não se furtou a comentar outro filme que estreou antes de "Trama Internacional" - "Duplicidade". "Estava numa fase de recusar roteiros. Quando recebi o de Tony (Gilroy), aceitei imediatamente. O diálogo era pura dinamite e Julia (Roberts) e eu representamos personagens que desconfiam um do outro. É o oposto da dupla de "Trama Internacional". Foi muito divertido de fazer."




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