Cultura & Lazer Titulo Especial
Arte de fazer rir

Trajetória da primeira palhaça negra do País será contada hoje no Sesc São Caetano

Miriam Gimenes
06/04/2018 | 07:00
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Divulgação


 O palhaço Xamego, uma das atrações do circo Guarany na década de 1940, era adorado pela criançada. A cada vez que entrava no palco, sempre ao som da música homônima de Luiz Gonzaga, causava furor. Tanto que chegou até a despertar paixão em algumas mocinhas da plateia.

Sua identidade caiu por terra, segundo o livro Terceiro Sinal, de Dirce Militello, quando uma criança curiosa, ao invadir os bastidores do circo, viu Xamego amamentando um bebê. Sim, o palhaço era uma mulher que nasceu em São José do Rio Pardo e atendia pelo nome de Maria Eliza Alves dos Reis, a primeira palhaça negra do Brasil, cuja trajetória poderá ser conhecida hoje com a exibição do documentário Minha Avó era Palhaço, a partir das 19h30, no Sesc São Caetano (Rua Piauí, 554).

Dirigido por sua neta, a cineasta e também palhaça Mariana Gabriel, além de Ana Minehira, o filme trata da superação de racismo, machismo e um marco para a história do circo brasileiro. “O negócio era do meu bisavô, João Alves, que o vendeu em 1960. Quando conversei com pessoas sobre o assunto, só se lembravam dele, ninguém falava da minha avó e aquilo me chamou a atenção”, conta Mariana.

Ela revela que a ideia de fazer um documentário, que fosse a fundo na história da sua família, surgiu quando iniciou curso de palhaçaria, em 2009, dois anos após sua avó morrer. “O bacana é que ela viveu 98 anos. Contando a trajetória dela a gente conta junto quase a história do circo no Brasil. E é uma trama muito rica, porque temos pouquíssimos registros audiovisuais de circo.”

Entre as passagens do documentário está a de que Maria foi mãe de nove filhos após casar-se com Eurico. E, ao contrário do que geralmente acontece com quem trabalha em picadeiro, foi ele quem fugiu com a trupe para ir atrás de seu grande amor. “Ele era a ‘escada’ dela, a ajudava a fazer a piada no palco. As mulheres se apaixonavam pela minha avó... (risos). E minha mãe (Daise Gabriel) começa o filme dizendo que tinha raiva do Xamego, porque ele havia ‘tirado sua mãe’ dela, porque vivia trabalhando.”

No decorrer da elaboração do documentário, no entanto, Daise acabou por compreender a paixão que Maria Eliza tinha pela arte e fez as pazes com seu passado. Tanto que ela e outras diretoras conversarão ao fim da exibição do filme sobre essa história ímpar.




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