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Justiça sentencia casal a 125 anos em Ribeirão
Renan Fonseca
Do Diário do Grande ABC
17/12/2010 | 07:31
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Foram condenados há mais de 125 anos de prisão o pai e a madrasta dos irmãos Igor Giovanni, 12 anos, e João Victor Rodrigues, 13, assassinados e esquartejados em Ribeirão Pires. O júri popular se encerrou ontem, após as 18h, e os dois foram julgados por homicídio quadruplamente qualificado com quatro agravantes. Os advogados de defesa informaram que vão recorrer da decisão. Contudo, os procedimentos só podem ser retomados em janeiro, quando termina o recesso forense.

A Justiça aplicou a sentença individualmente. O pai biológico dos menores, João Alexandre Rodrigues, 42, recebeu 67 anos, um mês e 16 dias de prisão. Outros oito meses e 56 dias devem ser cumpridos pelo réu em regime semiaberto, por fraude processual. Já Eliane Aparecida Antunes Rodrigues, 38, foi sentenciada em 59 anos e seis meses em regime fechado. Ela também respondeu por fraude processual e facilitação de fuga, o que rendeu dez meses e 20 dias.

Os quatro agravantes imputados aos réus são uso de meio cruel no assassinato, impossibilidade de defesa das vítimas, morte torpe e violência a menor de 14 anos. A sentença foi aplicada pelo juiz José Wellington Bezerra da Costa Neto.

O júri foi composto por sete mulheres. O início da oitiva de ontem foi feita pelo promotor Abner Castorino, que conseguiu comover a maioria das juradas ao remontar e descrever as cenas do crime. Nem mesmo a mãe dos garotos, Cláudia Lopes dos Santos, 34, escapou ilesa das acusações do promotor.

Durante a explanação, o promotor disse que não concordava com a atitude de Cláudia. No dia 23 de dezembro de 2007, ela deixou as crianças na guarda de João Alexandre. "A senhora deixou os meninos dias antes do Natal", exclamou Castorino, apontando para Cláudia, que acompanhou o julgamento na plateia.

"Eles não sabem o que eu passei. Mas, vendo melhor, também tenho culpa", disse a mãe. Conforme revelou, ela fugiu da casa com outras duas filhas para não sofrer mais as agressões de João Alexandre.

"Eu esperava me estabilizar para buscar meus filhos; não queria que eles morassem na rua, como aconteceu comigo e minhas filhas", disse a mãe. 

TRANQUILIDADE
O momento ápice de comoção dos jurados foi quando o promotor leu uma carta escrita por um dos garotos. O manuscrito elencava oito desejos, compartilhados pelos irmãos, conforme explicou Castorino. "Uma vida tranquila", era o primeiro desejo de João Victor. Ver a mãe e o avô, eram outros sonhos. O menor também queria ser policial e "amar os outros e não ter inveja".

"Ter uma vida tranquila. Isso é o mínimo que os pais poderiam dar aos filhos", criticou o promotor.

De posse dos autos com relatórios do Conselho Tutelar, Castorino informou que as crianças não confiavam mais em adultos. "Lógico, eles sofriam agressões em casa". 

Pai demonstra frieza e tranquilidade durante audiência

Mãos entrelaçadas, pés juntos e aparentando muita calma. Olhos fixos em um ponto distante, semblante tranquilo, como se esperasse a vez para alguma senha. A reação não veio nem mesmo quando lhe foram proferidas as palavras mais duras e frias. Foi assim que permaneceu durante a audiência o pai dos irmãos esquartejados, João Alexandre Rodrigues, 42 anos. A serenidade do réu foi tema dos cochichos entre os participantes da audiência.

Por outro lado, nos olhos da companheira, Eliane Aparecida Antunes Rodrigues, 38, era possível ler desespero. Enquanto era chamada de "monstro" e "não humana" pelos juristas, Eliane lacrimejava, coçava o pescoço, trocava a posição dos pés e procurava uma maneira mais confortável na cadeira. Os dois não trocaram olhares, palavras ou afetos durante a oitiva.

CORREÇÃO
Os advogados que defenderam João Alexandre tentaram induzir o júri para homicídio culposo, sem intenção de matar. Na visão do advogado Reynaldo Fransozo Cardoso, o ato de sufocar os dois irmãos usando saco plástico era uma maneira de corrigir os filhos. "O resultado final não era a morte dos garotos. Foi um ato de correção", explicou o jurista.

A aparente frieza de João Alexandre também foi explicada. O defensor Antônio Gonçalves expôs que o pai do réu era policial militar. "Naquela época (infância de João Alexandre) a criação era mais rígida. O pai estava acostumado aos ditames rígidos da época", falou.




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