O manifesto de Oswald pregava a apropriação, ou deglutição, do melhor da cultura estrangeira somado às manifestações culturais brasileiras, resultando em um caráter nacional híbrido, novo e inédito.
Quinta-feira, a Cultura exibe A Revolução Tropicalista, às 22h30. Mostra o contexto em que surgiu o movimento que brotou, cresceu e foi podado pela repressão militar em 1968, enquanto eclodiam manifestações estudantis na Europa. Dirigido pelos franceses Yves Billon e Dominique Dreyfus e realizado em 2001, tem depoimentos de Caetano e Gilberto Gil, líderes dos artistas que armaram a revolução na cultura nacional a partir da visão crítica e antropofágica da Semana de 22.
As músicas Alegria, Alegria e Domingo no Parque surgiram em outubro de 1967, no 3º Festival da MPB. No ano seguinte, o LP-manifesto Tropicália foi lançado com o show Momento 68. O AI-5, em 13 de dezembro, cortou tudo. José Celso Martinez Corrêa no teatro, Hélio Oiticica e seus parangolés (capas que mudavam de forma de acordo com o gestual) nas artes plásticas e Julio Bressane no cinema (o Cinema Novo um pouco antes) foram influenciados diretamente pelo Tropicalismo. Gal Costa, Tom Zé, Torquato Neto e Rita Lee e Os Mutantes também prestam depoimento.
A chave do Tropicalismo foi o maestro Rogério Duprat. “Ele era para nós o que George Martin foi para os Beatles. Era o que desafiava os limites dos tropicalistas”, afirma Gil em Rogério Duprat – Oirégor Tarpud, produção da Grifa Cinematográfica e TV Cultura, dirigido por Pedro Vieira, que será exibido no sábado, às 21h.
Duprat foi o arranjador das músicas de Caetano, Gil, Tom Zé e Os Mutantes e introduziu a performance e a distorção na música brasileira. “Ele trouxe um grau de instrução que a MPB nunca teve. Quando fazia a guitarra soar, fazia experimentalismo”, diz Pedro Vieira, diretor do documentário que também tem formação musical.
Carioca, nascido em 1932, Duprat mudou-se para São Paulo em 1955 para ser músico da Orquestra Sinfônica Municipal. Lançou, em 1961, o manifesto Música Nova, em simetria com o manifesto concretista lançado nove anos antes. Foi pioneiro em fazer composições eletrônicas e em romper com o nacionalismo na composição erudita. Nos anos 70, dedicou-se a jingles e trilhas de cinema. Afastou-se do meio musical com um problema de surdez e só voltou a trabalhar com arranjos no início dos anos 90, para discos de Lulu Santos e Rita Lee.
Inédito no trabalho, exibido no festival É Tudo Verdade, é a interpretação de Antonio Del Claro para Cinco Pequenas Peças para Violoncelo Solo, compostas por Duprat em 1958. “Nem o próprio autor tinha ouvido a peça antes”, afirma Vieira. O programa mostra, em áudio original de 1962, trechos da composição Organismo, sobre poesia de Décio Pignatari, trechos de ensaios de É Proibido Proibir, na casa de Duprat, com Caetano, Gal, Gil, Os Mutantes, e traz outros depoimentos, entre eles de Rita Lee, Tom Zé e dos cineastas Walter Lima Jr. e Walter Hugo Khouri.
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