Cultura & Lazer Titulo
Duas revoluções culturais do Brasil fazem aniversário
Alessandro Soares
Do Diário do Grande ABC
30/04/2003 | 20:21
Compartilhar notícia


Caetano Veloso escreveu em seu livro Verdade Tropical (1997) que o Tropicalismo era herdeiro das idéias expostas por Oswald de Andrade (1890-1954) no Manifesto Atropófago, publicado em maio de 1928, há 75 anos, e que influenciou toda a produção cultural brasileira. Caetano afirma ser a antropofagia cultural “um modo de radicalizar a exigência de identidade (e de excelência na fatura), e não um drible na questão”. O Tropicalismo, movimento artístico que contestou a cultura brasileira entre outubro de 1967 e dezembro de 1968, é tema de dois documentários em seus 35 anos de existência na TV Cultura.

O manifesto de Oswald pregava a apropriação, ou deglutição, do melhor da cultura estrangeira somado às manifestações culturais brasileiras, resultando em um caráter nacional híbrido, novo e inédito.

Quinta-feira, a Cultura exibe A Revolução Tropicalista, às 22h30. Mostra o contexto em que surgiu o movimento que brotou, cresceu e foi podado pela repressão militar em 1968, enquanto eclodiam manifestações estudantis na Europa. Dirigido pelos franceses Yves Billon e Dominique Dreyfus e realizado em 2001, tem depoimentos de Caetano e Gilberto Gil, líderes dos artistas que armaram a revolução na cultura nacional a partir da visão crítica e antropofágica da Semana de 22.

As músicas Alegria, Alegria e Domingo no Parque surgiram em outubro de 1967, no 3º Festival da MPB. No ano seguinte, o LP-manifesto Tropicália foi lançado com o show Momento 68. O AI-5, em 13 de dezembro, cortou tudo. José Celso Martinez Corrêa no teatro, Hélio Oiticica e seus parangolés (capas que mudavam de forma de acordo com o gestual) nas artes plásticas e Julio Bressane no cinema (o Cinema Novo um pouco antes) foram influenciados diretamente pelo Tropicalismo. Gal Costa, Tom Zé, Torquato Neto e Rita Lee e Os Mutantes também prestam depoimento.

A chave do Tropicalismo foi o maestro Rogério Duprat. “Ele era para nós o que George Martin foi para os Beatles. Era o que desafiava os limites dos tropicalistas”, afirma Gil em Rogério Duprat – Oirégor Tarpud, produção da Grifa Cinematográfica e TV Cultura, dirigido por Pedro Vieira, que será exibido no sábado, às 21h.

Duprat foi o arranjador das músicas de Caetano, Gil, Tom Zé e Os Mutantes e introduziu a performance e a distorção na música brasileira. “Ele trouxe um grau de instrução que a MPB nunca teve. Quando fazia a guitarra soar, fazia experimentalismo”, diz Pedro Vieira, diretor do documentário que também tem formação musical.

Carioca, nascido em 1932, Duprat mudou-se para São Paulo em 1955 para ser músico da Orquestra Sinfônica Municipal. Lançou, em 1961, o manifesto Música Nova, em simetria com o manifesto concretista lançado nove anos antes. Foi pioneiro em fazer composições eletrônicas e em romper com o nacionalismo na composição erudita. Nos anos 70, dedicou-se a jingles e trilhas de cinema. Afastou-se do meio musical com um problema de surdez e só voltou a trabalhar com arranjos no início dos anos 90, para discos de Lulu Santos e Rita Lee.

Inédito no trabalho, exibido no festival É Tudo Verdade, é a interpretação de Antonio Del Claro para Cinco Pequenas Peças para Violoncelo Solo, compostas por Duprat em 1958. “Nem o próprio autor tinha ouvido a peça antes”, afirma Vieira. O programa mostra, em áudio original de 1962, trechos da composição Organismo, sobre poesia de Décio Pignatari, trechos de ensaios de É Proibido Proibir, na casa de Duprat, com Caetano, Gal, Gil, Os Mutantes, e traz outros depoimentos, entre eles de Rita Lee, Tom Zé e dos cineastas Walter Lima Jr. e Walter Hugo Khouri.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;