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Milosevic acusa Otan de ter causado a guerra de Kosovo
Das Agências
14/02/2002 | 13:09
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O ex-presidente iugoslavo Slobodan Milosevic acusou nesta quinta-feira, no Tribunal Penal Internacional (TPI) de Haia, a Otan e as potências ocidentais de provocarem a tragédia de Kosovo e de inventarem um "oceano de mentiras" sobre os conflitos na Iugoslávia para incriminá-lo.

Enérgico, agressivo e apontando um dedo ameaçador para os promotores, o ex-presidente ressaltou em seu discurso de defesa que os crimes da Iugoslávia começaram quando a Otan bombardeou a Sérvia em março de 1999.

"Pretendem fazer acreditar que eu provoquei a intervenção da Otan e o sofrimento de milhares de pessoas porque queria uma fronteira entre o sérvio e o não-sérvio", disse.

Milosevic, que usava uma gravata com as cores da bandeira sérvia (vermelho, branco e azul), apresentou em sua defesa fotos, vídeos, documentos e dados históricos.

Segundo ele, "os Estados Unidos puderam ir até o Afeganistão para se defender" e todo mundo considera isso "lógico e normal", mas ele é condenado por "preservar a integridade territorial de seu próprio país, dentro de suas fronteiras".

"Kosovo está na Sérvia, não na fronteira com a Sérvia, assim como Haia não está na fronteira holandesa", lembrou, irônico.

Milosevic ressaltou que até a primavera (boreal) de 1999, a província vivia uma guerra civil entre os membros do Exército de Libertação de Kosovo (UCK) e as forças sérvias, mas os bombardeios da Otan fizeram a população albanesa fugir.

Segundo o ex-presidente, foram as potências ocidentais que criaram a idéia da Grande Sérvia. Relendo fragmentos de um de seus antigos discursos, Milosevic destacou frases que faziam referência à integração e respeito de todos os grupos étnicos que formavam a Iugoslávia para contribuir com a prosperidade política, social e econômica.

"Os sérvios não começaram as guerras da Iugoslávia. Por que nos culpam pelos conflitos na Bósnia e na Croácia? Foram os dirigentes ocidentais que separaram a Iugoslávia", lembrou.

Mostrando seu grande talento para a advocacia, insistiu que o TPI e a promotora-chefe, Carla del Ponte, "estão julgando todos os sérvios que lhe deram apoio".

"Isso tudo é uma manipulação, uma grande mentira e talvez seja melhor que você aceite esta mentira e coroe toda a farsa", afirmou, dirigindo-se ao juiz Richard May, que preside o julgamento.

Milosevic disse que está sendo "crucificado" pelo TPI, destacou que os generais ocidentais prestarão depoimento em Haia da "verdade" e afirmou confiar que durante o julgamento outros líderes mundiais vão comprovar que a acusação se baseia numa grande mentira.

"Olhem esta sala, a cobertura da imprensa neste julgamento. Tudo está preparado em seu favor. E eu, o que tenho? Só um telefone em minha cela para enfrentar a mais terrível agressão contra meu país, minha gente, contra mim", garantiu.

Milosevic, acusado de crimes contra a humanidade e de guerra nos conflitos da Croácia (1991-95), Bósnia (1992-95) e Kosovo (1998-99), além do genocídio na Bósnia, não recorreu à ajuda de advogados, pois não reconhece a legitimidade deste tribunal.

"Vocês não têm provas, estão inventando tudo (...) Me julgam porque não podem julgar um país inteiro. Este julgamento é um crime contra a verdade e um crime cínico contra a justiça", declarou, garantindo que se sentia "nos tempos da inquisição".

Este julgamento histórico, o primeiro de um chefe de Estado, pode durar anos e há chances de Milosevic ser condenado à prisão perpétua.




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