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'É O Bicho de Sete Cabeças' estréia em SP e ABC
Patrícia Vilani
Do Diário do Grande ABC
21/06/2001 | 16:35
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O filme nacional mais premiado do ano chega nesta sexta a uma sala do ABC Plaza Shopping, em Santo André, e ao circuito paulista. É O Bicho de Sete Cabeças (Brasil, 2001), de Laís Bodansky, vencedor de nove prêmios nos últimos festivais de Brasília e Recife, incluindo melhor filme e melhor ator para Rodrigo Santoro.

O roteiro de Luiz Bolognesi, marido de Laís, foi inspirado no livro O Canto dos Malditos, no qual o curitibano Austregésilo Carrano Bueno descreve sua tragédia pessoal, quando seu pai o internou num hospital psiquiátrico depois de ter descoberto que ele fumava maconha. Era 1974, e Carrano, como ele mesmo descreve, era apenas um adolescente roqueiro e rebelde.

Se o leitor encontrou semelhanças entre as sinopses de O Bicho de Sete Cabeças e o norte-americano Garota, Interrompida (1999), esqueça. O segundo, também baseado numa história real (jovem que ingeriu vodca e aspirinas é internada pelos pais em um manicômio), parece um conto de fadas se comparado ao primeiro. O Bicho é cruel, doloroso, visceral, mas extremamente realista. É uma tragédia, e não um drama.

A história de Carrano é transposta para os dias de hoje, na cidade de São Paulo. Opção da diretora, que tenta de certa forma mostrar que as duas épocas estão bem próximas neste sentido. Neto (Santoro) é um jovem desleixado de classe média, estudante de segundo grau. Passa o tempo andando de skate e fumando maconha com os colegas.

O diálogo de Neto com os pais (Cássia Kiss e Othon Bastos) é mínimo, situação retratada na seqüência em que o garoto decide viajar sem comunicar a família. O conflito de gerações culmina quando o pai encontra um cigarro de maconha na mochila de Neto e decide interná-lo em uma clínica psiquiátrica.

O adolescente se vê cercado por doentes mentais, em um lugar sujo e assustador. Seu tratamento consiste em tomar calmantes fortíssimos e obedecer às regras da instituição. Mas o pior não é sua longa estadia no manicômio e, sim, seu retorno à sociedade. Neto já está “institucionalizado”, como define o próprio Carrano, e passa a acreditar que seu lugar é mesmo dentro de um hospício.

O filme é mais do que uma denúncia de maus-tratos e corrupção no sistema psiquiátrico brasileiro. É também um retrato doloroso da falta de diálogo e do conflito entre pai e filho, bem descrita na carta que Neto deixa para o pai. O texto que encerra o filme, belíssimo, é inspirado na Carta ao Pai, de Franz Kafka, e em rascunhos de Carrano.




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