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Grande ABC tem reserva ecológica pouco conhecida
Márcia Pinna Raspanti
Do Diário do Grande ABC
07/07/2002 | 18:30
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O VII Congresso de História do Grande ABC, que será realizado de 22 a 27 de julho em Rio Grande da Serra, irá mostrar uma área de preservação praticamente desconhecida dos moradores do Grande ABC – a Reserva Biológica do Alto da Serra de Paranapiacaba, em Santo André, que representa quase 100 anos de preservação e pesquisa científica. Além do aspecto histórico, o local abriga em seus 330 hectares milhares de espécies de plantas e insetos, nascentes de água, mirantes, pássaros e pequenos animais silvestres.

A reserva começou a nascer em 1909, quando o médico e antropólogo Hermann von Lhering, diretor do Museu Paulista (que se tornou conhecido como Ipiranga), adquiriu uma parte da área atual com o objetivo de preservar ao menos um pequeno trecho de Mata Atlântica. Lhering já enxergava o local como objeto de estudos científicos – finalidade que hoje atrai pesquisadores de todo o país.

As altas despesas com a manutenção da área obrigaram o cientista a entregá-la ao Estado. Em 1918, o parque passou para a Secretaria do Interior, sob a direção do naturalista Frederico Carlos Hoehne, que continuou o trabalho de Lhering, no sentido de tornar o local uma reserva biológica, e expandiu a área original.

A reserva é hoje de responsabilidade do Instituto Botânico, e sua preservação é garantida por resolução do Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo). Desconhecida para a grande maioria dos moradores da região, a área é parte importante da história da botânica no Brasil. A Casa do Naturalista, construída em 1937, é usada para atividades de educação ambiental – a casa mais antiga da reserva, datada da década de 20, está em ruínas.

Além de gerações de pesquisadores, o local já recebeu a visita de conhecidos cientistas, como a ganhadora do prêmio Nobel em Física e Química, a polonesa Marie Curie, o lingüista e historiador Affonso de Taunay e a ilustradora inglesa Margareth Mee, que fez um livro sobre bromélias da Mata Atlântica.

Trilhas históricas – A reserva possui 35 trilhas ecológicas, sendo que 13 são históricas (abertas até 1925). O visitante pode admirar a enorme diversidade de espécies da Mata Atlântica, pois a vegetação é composta por bromélias, orquídeas, samambaias, quaresmeiras, ipês, manacás e antúrios. A grande quantidade de palmito doce é uma característica da área, que sofre com a extração ilegal do produto.

Em seus 93 anos de existência, a reserva nunca foi desmatada, nem sofreu com as queimadas e outras agressões. “Procuramos interferir o mínimo possível na área, para que a natureza realize os seus ciclos”, disse Rosângela Bianchini, 39 anos, pesquisadora científica do Jardim Botânico e responsável pela reserva.

Atualmente, apenas dois funcionários fazem o trabalho de fiscalização, e contam com a ajuda dos integrantes da frente de trabalho e dos próprios pesquisadores. Antônio Dorival de Souza, 55 anos, cuida da preservação da reserva há 23 anos. “Não sei como poderia viver longe daqui. É uma pena que algumas pessoas não tenham consciência da importância da área”, disse. A reserva não é aberta ao público – apenas pesquisadores, escolas e universidades podem visitar o local.




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