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Vandalismo 'estoura' orçamento da CPTM
Samir Siviero e
Raymundo de Oliveira
Do Diário do Grande ABC
10/11/2001 | 19:26
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  A CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) antecipou em dois meses o fim do contrato com a Renfe (Rede de Ferrocarriles de Espanha) que garantia a manutenção dos trens espanhóis usados no transporte de passageiros da Região Metropolitana. Na linha D (Barra Funda/Paranapiacaba) são usados trens espanhóis. O motivo alegado pela direção da CPTM é que o vandalismo contra os trens foi quatro vezes maior do que o valor previsto no contrato.

Há três anos, a CPTM recebeu como doação 48 composições da Renfe e, há quase dois anos, mantinha um contrato com prazo de 24 meses, no valor de 22 milhões de euros (R$ 50,3 milhões) para os serviços de modernização, revisão e manutenção dos trens. Segundo o gerente de manutenção da CPTM, Márcio Machado, a previsão era que seriam gastos com vandalismo 2,5% do valor contratual, mas o índice ficou em 10%.

“Até a substituição dos vidros foi suspensa por causa do aumento nos casos de vandalismo”, disse Machado. Segundo ele, em vez de trocar os vidros, que têm custo unitário estimado em R$ 700, a CPTM tem colocado adesivos e outros produtos para evitar que os vidros despedacem.

O contrato com a Renfe terminou no último domingo e a CPTM prevê concluir em seis meses uma concorrência internacional para uma nova contratação de manutenção para os trens espanhóis. Até lá, o serviço vai ficar a cargo de funcionários da própria empresa.

Segundo a assessoria de imprensa da empresa, 30 técnicos da CPTM foram treinados por funcionários da Renfe para fazer os serviços de manutenção e também repassar conhecimentos para outros trabalhadores da CPTM.

De acordo com a assessoria, os gastos com vandalismo na rede da CPTM são de R$ 3,5 milhões ao ano. No ano passado, a receita bruta da CPTM foi de R$ 453,2 milhões.

O presidente do Sindicato dos Trabalhadores da CPTM, Eloís Alves de Matos, disse que os funcionários da empresa estão acostumados a fazer trabalhos de manutenção nas composições que eram usadas na rede antes da chegada dos trens espanhóis. “Estes trens são novos e os trabalhadores não conheciam os veículos, mas houve treinamento por parte da Renfe. A dúvida é saber se os outros funcionários que serão treinados terão tempo para aprender até que haja uma nova contratação”, disse.

De acordo com o coordenador executivo de operação das linhas A e D, Mohamed Chouchair, o tempo que os trens ficarão sem manutenção especializada não vai influenciar na circulação das composições. A nova licitação prevê um investimento de R$ 140 milhões para um período de cinco anos. “Os nossos técnicos estão preparados para fazer o trabalho preventivo e corretivo, que é quando os trens apresentam problemas. A única coisa que não podemos fazer é uma revisão geral, quando temos de desmontar toda a composição e trocar peças, pintar bancos e tudo mais”, disse Chouchair.

Segundo o coordenador, a revisão geral é feita a cada seis meses ou de dez em dez meses, e depende da circulação dos veículos. Cada composição só passa por uma revisão geral quando atinge 120 mil quilômetros rodados. “Antes do final do contrato, solicitamos que a Renfe fizesse a revisão geral dos trens. Não corremos o risco de um colapso em que tenhamos de encostar algum trem por falta de manutenção; nossos técnicos têm capacidade para fazer o trabalho que o pessoal da Renfe fazia.”

Segundo Chouchair, não houve falta de planejamento, e sim problema com vandalismo. “Tivemos um vandalismo excessivo com estes novos trens, tanto que fomos obrigados a parar de trocar os vidros estilhaçados e dar preferência àqueles que tinham buracos. Com isso, o valor do contrato acabou antes do tempo previsto para o fim do acordo, mas há alguns meses nossa equipe trabalha para elaborar o novo edital.”

Quanto à possibilidade de a própria equipe da CPTM assumir os serviços executados até então pela Renfe, o coordenador disse que é inviável. “O pessoal que trabalhará com a manutenção é de outras áreas que pudemos contrabalancear e eles terão de voltar a seus departamentos quando a empresa contratada assumir. Para fazer o trabalho de revisão geral, precisamos mesmo de uma equipe grande, porque os trens encostam para manutenção quase na mesma época e, além do mais, os trabalhadores devem ser especializados porque praticamente desmontamos os trens na revisão”, afirmou Chouchair.




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