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Giulia Gam: 'feeling' para bons papéis
Gabriela Germano
Da TV Press
16/11/2008 | 07:00
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Divulgação


Giulia Gam é uma profissional decidida. Quando recebeu a sinopse de sua personagem Diva, de A Favorita, resolveu de cara aceitar o papel, mesmo sendo questionada por determinadas pessoas, que consideravam o personagem periférico. "Era apenas uma participação. Mas importante. Vi que eu tinha boas possibilidades ao desenvolver esse trabalho e não titubeei", resume a atriz.  Mas o prazer em fazer novelas nem sempre existiu. Quando iniciou a carreira, Giulia esnobava a televisão: queria viver somente de teatro. Chegou a chorar por aceitar fazer a Aline de Que Rei Sou Eu?, seu primeiro folhetim completo, em 1989. "A lavagem cerebral foi forte. Só me livrei dessas idéias há pouco tempo", conta.

Hoje aos 41 anos, ela mais uma vez decidiu que pode se realizar profissionalmente em diversos projetos e confessa que adora receber o carinho do público nas ruas. "É uma delícia ver o público perguntar sobre o meu personagem e meu trabalho", derrete-se a atriz.

Inicialmente, sua personagem morreria em A Favorita, mas o autor resolveu mantê-la na novela e criou várias histórias mirabolantes para ela. Não é difícil defender uma figura tão ambígua?
GIULIA GAM - É complicado. Porque são várias figuras em uma. No início ela dizia muita coisa pelo olhar, era de pouco texto, objetiva. Quando surgiu a história do tráfico de armas, tinha de se mostrar poderosa, fria. E agora que voltou para o sítio do Augusto César como Miranda/Rosana surgiu uma outra personagem, que carrega todas essas histórias já mostradas. Eu tenho de quebrar a cabeça para criar uma liga entre tantos acontecimentos. O autor até me confessou que seria mais fácil se ela fosse uma bandidona. Mas com as cenas tão humanas que ela viveu na prisão, não seria possível. Quando me perguntam se ela é boa ou ruim, digo que não é nem uma coisa e nem outra. Só é uma mulher que fez escolhas sem pensar muito nas conseqüências. Logo que comecei a gravar, percebi a complexidade desse trabalho. A verdade é que meu "feeling" é bom para escolher personagens.

O que seu "feeling" indicava?
GIULIA - Enxergava várias possibilidades nesse trabalho. Já sabia o que aconteceria com a Flora e também que minha personagem conviveria com a Donatela na prisão. Só não podia dar entrevistas falando isso. Na verdade, se a Diva tivesse morrido depois de toda a história na cadeia, acho que já teria valido a pena. Ter continuado foi uma surpresa incrível para mim.

Mas nem sempre você se empolgou com trabalhos na TV. Você já teve medo de aceitar determinados papéis, não?
GIULIA - (Risos) Já achei que estaria me vendendo para o sistema se topasse fazer televisão. Quando fui chamada para fazer Que Rei Sou Eu?, em 1989, fiquei até as 22h conversando com o Daniel Filho e com o Roberto Talma para que eles me convencessem. Eles questionavam: ‘que sistema? É uma novela maravilhosa!'

Mas a novela Mandala e a minissérie O Primo Basílio vieram antes...
GIULIA - Mas em Mandala era uma participação de 15 capítulos e minissérie era outra história. Mesmo assim, em Mandala eu passei o final de semana inteiro chorando para tomar a decisão, até que me ligaram na segunda-feira e decidi fazer. Já fazer uma novela inteira era demais. Eu trabalhava com o Antunes Filho. Ainda muito nova, tive contato com pessoas que viam o teatro de uma maneira religiosa, filosófica ou como uma transformação ideológica. Quando penso em tudo isso...

Você se arrepende de ter pensado assim?
GIULIA - Acho incrível que eu tenha chegado a pensar assim. Mas de qualquer forma, isso me ajudou a ser resistente a determinadas coisas. Poderia ter feito um contrato longo com a Globo aos 19 anos. Todo mundo fazia. Havia muitos atores jovens ganhando o salário de um executivo de 50 anos. Aí eles compravam casa, carro, cachorro e para manter essa estrutura deixavam de se arriscar em outras coisas. Mas acho bom você conviver com diferentes grupos, montar uma peça, ir para a Europa ver o que está acontecendo. Enquanto você não tem filhos e não é responsável por ninguém, você pode ir buscar outras coisas, experimentar. Eu só não precisava ter sido tão radical e ter feito TV sofrendo tanto.

O que te fez mudar de opinião?
GIULIA - A experiência. Ela me mostrou que não era o veículo que me fazia, mas que eu poderia agir nele. Algumas pessoas me falavam que eu tinha empatia com a TV e eu achava ruim. Porque eu pensava que ator bom realmente não funcionava na TV. Pode isso? Mas hoje acho que tenho essa empatia realmente. Sem contar que estou mais velha, tenho um filho e o meu modo de pensar foi mudando. Um ator pode viver momentos de realização na TV.

Quais foram os seus?
GIULIA - Mulheres Apaixonadas, por exemplo, que está sendo reprisada agora. Nessa novela eu vivi um momento que talvez não se repita mais na minha vida. Não foi só o orgulho de fazer bem um trabalho. Mas por meio da minha personagem, a Heloísa, o Manoel Carlos tocou em um ponto que nem ele e nem eu imaginávamos que ia tomar um tamanho tão grande: falar das doenças da alma. Isso deu muita repercussão no Brasil e em outros países em que a novela foi exibida. Com a história do ciúme pelo marido, de destratar os porteiros, as pessoas viam-na como uma chata, mas depois tinham pena da Heloísa. Mexi com homens e mulheres fazendo essa novela.

Foi o seu melhor momento?
GIULIA - Foi um momento importante. Eu já tinha meu filho, estava acabando de enfrentar uma separação e veio o convite. Foi como se eu estivesse começando do zero. Mas há outros trabalhos importantes na minha carreira. Já fui protagonista, já fui mocinha, fiz Dona Flor e Seus Dois Maridos, além de tantos projetos com o Guel Arraes. Agora veio a Diva, depois de um momento difícil em que perdi minha mãe. Estou feliz com esse trabalho também. É legal ver que você sabe fazer e ainda tem prazer em fazer.




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