A pintura de linhas largas, em formato de zebra sobre asfalto, a das conhecidas faixas de pedestres, não tem garantido a segurança dos que usam os pés para chegar ao destino. Motoristas parecem fazer de conta que não veem pedestres. Estes, não raro, as desprezam.
Pelo CTB (Código de Trânsito Brasileiro), deixar de dar preferência para pedestres na faixa caracteriza multa gravíssima. Ao pedestre, o CTB estabelece obrigatoriedade de cruzar em faixas, se estiverem a até 50 metros destas. Não há qualquer pena, enquanto na França o pedestre pode ser multado em irrisórios, mas significativos quatro euros. Experimente cruzar fora da faixa na Espanha: arriscará 200 euros.
O artigo 71 do CTB estabelece clara obrigação do poder constituído em manter as faixas. Parece letra morta, em razão do elevado número de faixas apagadas ou sujas. Para eles, não há redação específica de multa, não chega foto da faixa apagada na caixa de correio. E, quando mal mantidas, ajudam até a anular multas. Um sistema que parece proteger pedestres.
Há, ainda, o problema da padronização. Motoristas reagem de forma automática perante imagens. Quando se aproximam de placas ‘Pare’, que têm sempre mesmo formato e cor, não pensam. Pisam no freio e pronto. No Brasil, as faixas de pedestres ora apresentam apenas linhas na forma de zebra, ora têm também faixas laterais, perpendiculares aos olhos dos motoristas. Fundos e faixas mudam de cor. Automatizaria melhor a ação de frear, caso fossem sempre iguais. Há, claro, a conhecida apagada. A pior diferença tende à lombofaixa. Uma faixa elevada, onde se pode imaginar ter ocorrido mais atropelamentos. Estabelece grave diferença aos olhos dos motoristas, apesar de resoluções que as autorizam em casos excepcionais. Gera conceito de que nestas é que é para parar. Nas outras, nem tanto...
Índia e China têm curiosas faixas experimentais. Desenham verdadeiras obras de arte, de forma a criar ilusão de ótica: parecem blocos que se elevam do piso, como barreiras para motoristas. Chamam a atenção de todos, mas pertencem a países onde as estatísticas de segurança no trânsito são das piores. Na Inglaterra, as faixas brancas que separam veículos viram linhas em zigue-zague antes das faixas de pedestres. Induzem motoristas a reduzir marcha. Em Londres morreram 70 pedestres em 2016, para 8,5 milhões de habitantes. Em São Paulo, 390 para 11,5 milhões de habitantes, onde se deve ficar feliz quando alguém volta enfaixado para casa.
Multar mais é solução? Penalidades ainda maiores? Não. Chuva no molhado. A solução dos problemas do País está na Educação.
Contudo, os traços culturais dificultam mudar costumes. Alunos ouvem de professores o que devem fazer, possíveis ecos das falas dos pais. Veem que o que eles fazem é diferente do que falam. Perenizam o comportamento errado.
No acesso à escola, angustiados pais deixam filhos, com olhos nos pequenos. Janela aberta, preparados para um berro de cuidado ou qualquer outra interjeição, se estes não cumprirem a enfática determinação de olhar o trânsito e cruzar pelas faixas. Não se importam em parar em faixa dupla, não usar o cinto. Alguns, se pudessem, avançariam com carro pela calçada para tentar os proteger ainda mais. Estresse ainda se soma neste laboratório do efetivo aprendizado do erro.
Quanto à tecnologia, pode-se citar semáforo britânico que tem sensor de presença. Caso um pedestre demore mais a cruzar a rua, mantém vermelho para o carro. Mantém verde em caso de pedestre que acione a botoeira e desista de esperar. Em Madrid, escutam-se passarinhos enquanto se cruzam faixas com semáforos em verde. Triste é ver jovens no Brasil que ouvem música com fones de ouvido enquanto andam. Eles não querem ficar velhos.
A faixa mais segura do mundo? Bem, em Bristol, Inglaterra, há uma faixa pintada no fim de uma rua sem saída. Deve ser mesmo a mais segura.
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