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Placebo: baixaria e boa música
Cláudio Luis de Souza
Da Redaçao
06/02/1999 | 15:45
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Com um daqueles típicos atrasos de filial brasileira de gravadora multinacional, está chegando às lojas daqui o álbum Without you I'm nothing, do trio inglês Placebo.  Trata-se do segundo trabalho do grupo, que é formado por Brian Molko (voz e guitarra), Stefan Olsdal (baixo e teclados) e Steve Hewitt (bateria).

O primeiro, batizado simplesmente Placebo, passou meio despercebido pelas rádios brasileiras. Deste Without you I'm nothing, o single Pure morning chegou a ser divulgado em emissoras mais espertas, como a Brasil 2000, à época do lançamento do álbum na Europa.  Um bom começo de conversa sobre o Placebo deve incluir uma palavrinha sobre seu líder, o baixinho (cerca de 1,60 m) Molko.  

Aparentemente, ele (com a ajuda discreta de seus dois colegas de banda) decidiu provar que é o homem mais pervertido do Reino Unido.  Algumas entrevistas com a banda, publicadas na imprensa musical inglesa à época do lançamento do novo CD, parecem aquelas historinhas eróticas enviadas por supostos leitores a revistas de sacanagem de segunda linha. Num papo com a Select de outubro do ano passado, por exemplo, Molko discute a respeito do sabor do esperma de seus parceiros - que, deduz-se, ele costuma consumir com generosidade, posto que sua teoria sobre o tema inclui frases como "depende do que eles comeram no dia anterior".

Fora isso, ele tem o hábito de se vestir de mulher (na linha diva do cinema antigo) e raspa os pêlos do peito diariamente.  Por outro lado, correram histórias de que ele vinha tendo um caso com uma atriz da TV inglesa. Ou seja, no fim das contas, Molko é bissexual - uma opçao de vida que muita gente acha ainda mais condenável do que o homossexualismo puro e simples.  Ah, e tem as drogas também. Molko andou flertando com a heroína, mas diz que pulou fora antes de viciar-se. No novo CD, a cançao My sweet prince fala do tema de modo explicíto: "Eu e minha valiosa amiga/Podemos consertar toda a dor/Nunca pensei que ela poderia f... com minha cabeça". Na mesma entrevista à Select, o cantor e seus dois amigos confessaram que, na última turnê, gastaram cerca de 700 libras por semana com substâncias ilícitas - antes das mudanças no câmbio, isso equivalia a cerca de R$ 1,5 mil.  

E aqui poe-se o ponto final no capítulo Baixarias do Placebo. Virando a página, chegamos à música. Without you I'm nothing é um tremendo disco, que transita do rock mais cortante (como a faixa-título e You don't care about us) a momentos mais introspectivos e/ou tristonhos, como Summer's gone, que poderia ser uma balada do REM, ou a já citada My sweet prince.  

As influências óbvias do Placebo sao David Bowie e Suede. O fato de a voz de Molko lembrar muito a de Geddy Lee, vocalista do dinossáurico Rush, nao chega a atrapalhar, porque ele canta melhor do que o narigudo canadense.  

De qualquer modo, o ônus dessa semelhança jamais abafaria o efeito explosivo de uma cançao como Pure morning, uma espécie de filhote abandonado (e por isso neurótico e agressivo) de Rise, do PIL, cruzada com alguma música decente (se isso existe) de Marilyn Manson e correlatos. É a melhor faixa do disco, um dos grandes singles de 1997, e já vale seus R$ 18. E o resto nao fica muito atrás.




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