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Billings não está para peixe nem para pescador
Raymundo de Oliveira
Do Diário do Grande ABC
01/12/2001 | 15:45
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Se na represa Billings sobram algas, faltam peixes. A pesca predatória do passado – há seis anos a produção de tilápias chegava a 40 toneladas por semana – e a retirada de plantas aquáticas da represa provocaram a diminuição da quantidade de pescado e aumentaram a vantagem dos biguás sobre os pescadores na luta pelos peixes. Atualmente, a quantidade de tilápias retirada das águas pelas redes de pesca não ultrapassa oito toneladas por semana, segundo informações do Instituto de Pesca do Estado de São Paulo.

Sem os aguapés, que foram retirados pela Emae (Empresa Metropolitana de Água e Energia), os biguás, aves que se alimentam de peixes e são excelentes mergulhadoras, tiveram ampliado seu campo de visão dentro da água. Resultado: os peixes ficaram sem a proteção natural contra os predadores que vêm do céu. A retirada dos aguapés, segundo a assessoria de imprensa da Emae, é feita para evitar danos ambientais, como diminuição da luminosidade dentro da água e acúmulo das plantas mortas no fundo da represa, e também para que não ocorra entupimento nas bombas de captação de água.

Há quatro anos, os 653 pescadores e barqueiros que atuavam na área da Billings no Grande ABC se preparavam para formar um sindicato para a categoria e tinham planos de formar uma cooperativa para eliminar atravessadores e melhorar as condições de venda de sua produção. Atualmente, menos de 10% dos profissionais em pesca continuam em atividade na região. A maioria procurou outros locais para pescar, como Barra Bonita, no interior do Estado, ou mudou de profissão.

Segundo o pesquisador do Instituto de Pesca do Estado de São Paulo Euclides Rui Almeida Dias, a alteração no Ph da água, ocasionada por fatores como aumento do esgoto doméstico lançado na represa, também contribuíram para diminuir espécies de peixe como a carpa, que é mais exigente do que as tilápias, por exemplo. “O problema da falta de peixes na Billings tem solução, basta fazer o repovoamento com espécies adequadas”, disse.

O próprio Instituto de Pesca é uma das vítimas da queda dos peixes na Billings. O instituto desativou há três anos a estação de criação de carpas que possuía no Riacho Grande por causa do aumento no Ph da água e diminuição dos peixes. O mineiro Júlio de Aguiar, 50 anos, um ex-pescador profissional que atuava na Billings, atualmente é dono de 15 barcos para transporte de pescadores amadores. Ele afirmou que, há 12 anos, época em que pescava profissionalmente, chegava a tirar das águas da Billings entre 500 e 600 kg de peixes por dia.

Depois de trocar a pesca pelo transporte de pescadores, Aguiar informou que chegou a levar 150 pessoas por dia para pesca esportiva na represa. Atualmente, ele comemora quando consegue um movimento de 30 e 40 pescadores por fim de semana. Para driblar a situação, Aguiar tem usado seu terreno nas margens da represa como estacionamento para turistas e pescadores. “Até três ou quatro anos atrás era bem melhor para pescar”, disse.




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