O guitarrista mexicano Carlos Santana, vencedor de oito Grammys na última ediçao do prêmio, disse nesta segunda-feira em uma atribulada teleconferência com jornalistas latino-americanos que provavelmente fará uma turnê pela América do Sul no próximo ano. Ele afirmou que se recorda bem de sua apresentaçao no Rock in Rio, em 1991. Disse que foi "maravilhoso" poder tocar com Milton Nascimento, Djavan, Gilberto Gil e outros músicos brasileiros.

"O que eu busco com minha turnê é estimular a harmonia entre os Estados Unidos e os povos hispânicos", afirmou o guitarrista, que se considera uma espécie de embaixador latino na América. "É uma posiçao elevada estar a serviço de tanta gente", disse, acrescentando que está tentando definir em sua carreira uma "comunicaçao mais clara" e reivindicar "mais dignidade e respeito".

Segundo Santana, ter trabalhado com tantos convidados diferentes em seu disco "Supernatural" (gente como Everlast, Eric Clapton, Dave Matthews, Wyclef Jean, Lauryn Hill, Coolio, Rob Thomas, entre outros) foi uma "honra" e ele se sente muito agradecido a todos eles. "Nós todos queremos o mesmo: acelerar a consciência para que haja mais alegria, mais solidariedade no mundo", disse, antes de acrescentar que sua excursao internacional nao vai ter participaçao de nenhum dos convidados famosos.

"Todos estao ocupados", afirmou. "Mas me agrada ter gente nova comigo, nao gosto muito de tocar com gente velha", completou. "Quero pessoas que tenham a mente e o coraçao abertos". Ele confessou prazer especial em ter gravado com Wyclef Jean, que crê repartir com ele a mesma "alegria" em fazer música. "Foi uma coisa fenomenal", disse. "Nós fomos ao estúdio com nada, somente lápis e papel, e ele me deu a cançao pronta".

Nao houve chance de interpelar Santana a respeito de seu recente rompimento com sua gravadora, a Arista Records. A cisao foi provocada a partir de uma participaçao mal organizada do guitarrista num show beneficiente da ONG Pedro Zamora Foundation em fevereiro. Santana nao gostou de a gravadora ter cedido uma faixa inédita para o evento e, recentemente, divulgou carta dizendo que seus contratos profissionais "estao abertos" para o futuro.

Aos 52 anos, o guitarrista, herói em Woodstock, andava vivendo de juros e dividendos há um bom tempo. Com seu disco mais recente, "Supernatural" (BMG), ultrapassou a marca dos 7 milhoes de exemplares vendidos e voltou a experimentar o sucesso. E a fortuna. O "bate-papo" micado de Santana com jornalistas foi organizado pela Starmedia, empresa que acaba de acertar patrocínio exclusivo com o guitarrista.

Em contrapartida, a empresa vai tornar disponível na Internet shows e conversas com o artista durante a turnê "Supernatural Summer". "Carlos Santana é o artista latino mais badalado e respeitado da atualidade", disse Fernando Espuelas, chairman da Starmedia Network.

Internet - A turnê "Supernatural" deve percorrer 23 cidades dos Estados Unidos e do Canadá, entre 19 de julho e 22 de agosto deste ano. Santana festejou o acordo para divulgar sua turnê pela Internet. "É uma forma nova e cheia de possibilidades para entrar em contato com muita gente de fala hispânica e portuguesa".

A história de Carlos Santana começa no pequeno povoado de Autlan, no México. Aos 5 anos, ele começou a aprender música folclórica com seu pai, Jose, um violinista mariachi. Foi o pai quem lhe ensinou teoria musical. Mas Carlos foi além da música tradicional e, cooptado pelo rock-n'-roll que ouvia no rádio, passou a professar outra crença.

Em 1966, mudou-se para os Estados Unidos e, na hippie Sao Francisco, completou seu aprendizado. Mas nunca deixou de lado as origens. Ex-menino pobre, criou uma instituiçao, a Fundaçao Milagro, para ajudar crianças carentes. E, recentemente chocou o mundo ao revelar que foi vítima de abuso sexual quando criança. Nada disso o tornou amargo. É uma das boas almas do rock.