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Polivalente Millôr

Jornalista carioca morre aos 88 anos por falência múltipla
de órgãos em sua casa, em Ipanema; corpo é velado hoje

Sara Saar
Do Diário do Grande ABC
29/03/2012 | 07:00
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Depois de perder o humorista Chico Anysio, o Brasil se despede de outra personalidade da cultura brasileira, o polivalente Millôr Fernandes. Por falência múltipla de órgãos, ele morreu aos 88 anos, em sua casa em Ipanema (Zona Sul do Rio), na terça-feira, por volta das 21h. Embora conste em sua certidão de nascimento 27 de maio de 1924, Millôr dizia que a data correta era 16 de agosto do ano anterior.

O corpo será velado hoje, a partir das 10h, no Cemitério Memorial do Carmo, situado na zona portuária do Rio. Em seguida, o corpo será cremado em cerimônia reservada à família. Millôr tinha dois filhos com Wanda Rubino Fernandes, chamados Ivan e Paula, e um neto, Gabriel.

No ano passado, o escritor foi internado na Casa de Saúde São José, localizada no Humaitá (Zona Sul do Rio). Na época a família não autorizou a divulgação de boletins médicos. Millôr sofreu AVC (Acidente Vascular Cerebral) em fevereiro e teve pneumonia no fim de junho, quando recebia tratamento em casa e precisou retornar ao hospital.

TRAJETÓRIA - Nascido no Meier (Zona Norte do Rio), Millôr deveria ter se chamado Milton Viola Fernandes. No entanto, devido à caligrafia duvidosa, foi registrado como Millôr - fato só descoberto aos 17 anos. Órfão desde cedo, perdeu o pai com 1 ano e a mãe, aos 10.

Ao longo dos 60 anos de carreira, Millôr se firmou como um dos mais atuantes pensadores brasileiros enquanto se desdobrava - e obtinha destaque - em diferentes áreas. Era desenhista, jornalista, dramaturgo, tradutor e roteirista.

Dono de frases antológicas que ainda traduzem bem o cotidiano, o 'escritor sem estilo', conforme ele se definia, falava sobre qualquer assunto sem perder a esportiva, com seu característico humor ácido e inteligente. Publicou dezenas de livros, mas dizia não ter obra. "É coisa de pedreiro".

Participante de grandes momentos da imprensa brasileira do século 20, Millôr foi um dos responsáveis pelo crescimento da revista "O Cruzeiro", que alcançou a tiragem de 750 mil exemplares nos anos 1950, e um dos fundadores do tabloide "O Pasquim", símbolo de resistência ao regime militar.

Em 1953, presenciou a estreia de sua primeira peça de teatro, "Uma Mulher em Três Atos", no Teatro Brasileiro de Comédia, em São Paulo. E se tornou um dramaturgo premiado, autor de obras consagradas como "Um Elefante no Caos" e "Liberdade, Liberdade" (a última foi escrita em parceria com Flávio Rangel).

Millôr foi um dos principais tradutores de Shakespeare no Brasil, permitindo que clássicos como "Rei Lear" chegassem aos palcos nacionais. Como roteirista, escreveu mais de uma dezena de textos, a exemplo do filme "Terra Estrangeira".


FRASES
"O cara só é sinceramente ateu quando está muito bem de saúde"

"De todas as taras sexuais, não existe nenhuma mais estranha do que a abstinência"

"Democracia é quando eu mando em você, ditadura é quando você manda em mim"

"Todo homem nasce original e morre plágio"


LEGADO

"Foi um dos expoentes do hai-kai no Brasil. Ser inconfundível" (Zhô Bertholini, poeta e escritor andreense)

"Trabalhei para e com Millôr em 2001, quando reproduzi, com Damara Bianconi e Susie Hervatin, uma aquarela sua em mural de 45m2. Era um filósofo que desenhava. Conseguia traduzir em imagens hilárias as mazelas
do Brasil" (Renato Brancatelli, artista plástico de São Caetano)

"Seus textos e imagens são de qualidade sem comparação" (Marcos Antonio Silva, professor de Metodologia da
História na USP)


Colaborou Vinícius Castelli




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