Miguel não se preocupa em reproduzir a estética do artista plástico, dono de uma obra atípica e extremamente autoral, embora tenha como princípio trabalhar com o incomum. “O desafio de Bispo é colocar o público, e a mim também, diante do inusitado”, diz.
E os labirintos percorridos pelo ator no processo de montagem se revelam tão importantes quanto o resultado. “Não há um ponto final. O espetáculo morrerá no dia em que estiver concluído”, afirma. A pesquisa, que levou Miguel a ensaios abertos em hospital psiquiátrico e no zôo de Salvador, revela a mesma compulsão pela criação que atingia Rosário.
O artista plástico teve uma visão mística em 1938, no Rio. Tachado de doente mental, foi internado no hospital psiquiátrico Juliano Moreira, onde desenvolveu sua obra, que tem sua ordem. Utilizava o material que estivesse à mão. Por sinal, Rosário não dizia ser artista, mas ter uma missão a realizar: encontrar-se com Deus. A fim de montar esse quebra-cabeça – e de não cair no estereótipo do louco –, o ator procurou trabalhar também com a própria memória.
Além disso, Miguel não pretende ser o proprietário da verdade. Questionar – até mesmo o diagnóstico de esquizofrenia lançado sobre Rosário – é a senha para adentrar o universo de Bispo. “Há diversas possibilidades, mas não uma resposta definitiva”, afirma.
O ator apenas defende a idéia de que Rosário não era louco: “Ele foi um excluído, sua trajetória foi condenada pela sociedade. A peça fala de uma loucura lúcida”. Biografar Rosário nunca foi intenção de Navarro e Miguel. “Sem a grandiosidade da obra dele e a complexidade de sua personalidade não haveria espetáculo, mas o roteiro não é linear”, diz o ator, que se propõe a instigar o espectador a conhecer a obra do artista plástico.
Bispo – Espetáculo solo. Dramaturgia de Edgard Navarro e João Miguel. Direção de Edgard Navarro. Com João Miguel. Sábados, às 21h, e domingos, às 19h. No Sesc Santo André – r. Tamarutaca, 302, Santo André. Tel.: 4469-1250. Ingr.: R$ 5 a R$ 14. Até 13 de junho.
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