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Empresa investem para recupera dependente
Luciana Sereno
Do Diário do Grande ABC
27/04/2002 | 18:06
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Os programas de recuperação de funcionários dependentes químicos são parte da política dos mais variados tipos de empresas. Cientes de que problemas com álcool e drogas refletem uma quadro de doença e diante dos custos para demitir o dependente e contratar e treinar um substituto, a cada dia mais empresas optam por integrar o tratamento no benefício do plano de saúde.

É o caso da Scania do Brasil, de São Bernardo, que deu início ao seu programa interno de dependência química em 1980. “Na época, ficávamos desconfortados por saber que parte do efetivo estava internado em hospitais psiquiátricos”, disse a assistente social da empresa, Maria das Dores Vieira. “Fizemos então uma análise e descobrimos que metade dos funcionários afastados não apresentava diagnóstico claro porque era alcoólatra.”

O primeiro passo do trabalho, então, foi conscientizar o nível gerencial da empresa e, na seqüência, os demais funcionários, que hoje contam com convênios com clínicas especializadas. “O tratamento individual, que inclui internação por 28 dias e o acompanhamento pós-internação, nos custa cerca de R$ 4 mil.” O resultado, segundo a assistente social, pode ser verificado em dois aspectos. O primeiro está no índice de abstêmios, hoje de 86% dos tratados. O segundo refere-se aos encontros mensais entre os recuperados e seus familiares. “Eles trocam experiências por duas horas, durante o período de trabalho. Alguns já são voluntários em instituições que tratam de dependentes.

Produtividade – Outra empresa da região atenta à recuperação de colaboradores é a DaimlerChrysler, de São Bernardo, que mantém um programa de combate a dependência química desde 1994. Segundo o gerente de assistência médica, Ivanil Freitas, o trabalho com os dependentes visa a produtividade, mas busca resgatar a auto-estima. “Já tratamos cerca de 600 dos nossos 10 mil colaboradores. Um volume que está dentro dos padrões da Organização Mundial da Saúde, que prevê que 10% da população em geral é dependente.”

Freitas afirmou ainda que o problema com álcool, remédios e demais drogas afeta todos os níveis de trabalhadores. “O problema atinge a empresa de maneira vertical. Há casos entre os horistas mas também no nível mensalista e no corpo gerencial da empresa.”

Na Volkswagem, de São Bernardo, o programa completará três décadas neste ano. As faltas ao trabalho, desde a implementação, seguem uma curva decrescente, segundo o gerente executivo de serviços corporativos, Murilo Alves Moreno. “Entendemos que, além de fazer parte da responsabilidade social da empresa, o programa propicia a reintegração do indivíduo à sociedade.”

Moreno concorda com os demais executivos entrevistados que não vale a pena mandar o dependente embora para contratar e treinar outro que pode, inclusive, desenvolver o mesmo problema. “Despendemos capital no preparo de uma pessoa; se mandarmos embora é o mesmo que jogar dinheiro fora.” Segundo Moreno, o investimento no tratamento tem retorno garantido. A empresa, que trabalha com um orçamento anual de R$ 70 milhões para saúde, tem hoje um índice de recuperação dos dependentes de 72%.

Reabilitados – Pelo menos 40 funcionários da Scania, hoje reabilitados, encontram-se mensalmente com a assistente social da empresa para trocar experiências e analisar a vida antes e depois da droga. Entre eles, há quem confesse ter sentido inúmeras vezes que estava a um passo de perder o emprego por conta do uso de álcool. “Sei que estava visado pela chefia. Cheguei a faltar dois dias consecutivos”, disse Álvaro Martiniano Jr., funcionário da Scania há quatro anos.

“Além de quase ter ficado sem emprego, deixei passar despercebido que meu filho estava envolvido com drogas pesadas”, afirmou Jorge Icorissa, que trabalha na empresa há dez anos. Hoje, pai e filho estão recuperados. O tratamento foi custeado pelo plano de saúde oferecido pela montadora. Já Wilson Alves Pereira, 18 anos de empresa, convive até hoje com as conseqüências de seu vício. “Meu filho tratou-se com psicólogo por seis anos. O diagnóstico foi a minha dependência do álcool.”




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